Alguma vez você já se questionou sobre a existência do livre-arbítrio? Pensou sobre o seu significado? Avaliou se existe limite para ele? Como usá-lo? Falar de livre-arbítrio parece fácil quando simplificamos a sua compreensão, reduzindo-a a simples ‘escolhas’ que fazemos no nosso dia a dia. Mas para entendê-lo e usá-lo requer um aprofundamento do seu significado, dada a sua importância, já que ele define a qualidade da nossa existência. Percebemos que existem alguns conceitos a serem considerados, que fazem toda a diferença.
O que é o livre-arbítrio?
O livre-arbítrio é a maior prova da confiança de Deus no homem, pois Ele concedeu-lhe a liberdade de ser bom ou mau; a favor ou contra Ele; de agradecer a Sua benevolência e grandeza ou de “usá-Lo” com a sua prepotência, e até de ter ou não fé na Sua existência.
O livre-arbítrio é, pois, uma dádiva divina. Deus criou o livre-arbítrio para que cada criatura pudesse se manifestar neste mundo e assim tivesse sua individualidade, enquanto separada Dele. Entretanto, junto com o livre-arbítrio veio um termo de responsabilidade, no qual nos comprometemos a seguir Suas Leis. Para um pai educar seu filho, ele deve mantê-lo sob suas ‘leis’ ou regras, responsabilizando-o pelas suas escolhas, pois essas afetarão a sua realidade material e espiritual. Quem tem filhos sabe que todo pai ou mãe faz exatamente isso para ensinar, educar e tentar evitar o sofrimento do seu filho. É uma forma de proteção, é o amor incondicional. E então, como ‘filhos de Deus’, devemos ter consciência do Amor Incondicional de Deus por nós e que Lhe devemos obediência e gratidão. Não que isso seja algo imposto e arbitrário, pelo contrário, é para ser algo natural, imanente ao ser, e um indicador do melhor caminho que temos para completar nossa missão neste plano e retornar à casa do Pai. Para isso, simplesmente devemos seguir as Suas Leis, as quais são imutáveis e eternas; e não tem como infringi-las sem consequências. Não podemos tomar como exemplo as leis dos homens, porque estas são falhas e corruptíveis, assim como o próprio ser humano. Desta forma, podemos concluir que temos a ‘liberdade’ de escolha, mas esta está circunscrita pelas Leis Divinas.
Quem tem livre-arbítrio?
O livre-arbítrio é um atributo que requer “consciência” e por isso é exclusivo do ser humano, o único que tem consciência e raciocina para fazer suas escolhas. O maior entrave para todo ser humano é o seu próprio ego, pois nem sempre ele está sintonizado com sua parte divina, a alma, e assim ele quer arbitrar de acordo com as suas vontades sem considerar as Leis do seu Criador. Sua consciência deve se manter sempre atenta, por isso Jesus disse: “Orai e vigiai.”
Ser a causa ou o efeito?
No mundo no qual vivemos nos são oferecidas, a todo o momento, infinitas opções para tudo. Buscamos sempre a satisfação dos nossos desejos, que podem ser essenciais para nossa vida, como também servem apenas para nos proporcionar prazeres passageiros, os mais diversos. Vários são os caminhos que aparentam ser inofensivos, sem consequências, mas que podem definir irremediavelmente nossas vidas.
Podemos escolher entre ser a causa ou o efeito das nossas ações, pensamentos ou sentimentos. Ser a causa significa ter o domínio de nós mesmos e fazermos nossas escolhas a partir da nossa consciência, ou seja, da nossa alma, que está conectada ao nosso Pai e às Suas Leis. Ser o efeito significa se deixar dominar pelos desejos e pela ilusão do mundo material e, ao colher frutos ruins daquilo que você mesmo plantou, se fazer de vítima, como se não tivesse responsabilidade pelas suas escolhas.
Vejamos um exemplo no mundo material que retrata facilmente essa questão: o dinheiro. Este mexe com a mente e o livre-arbítrio de todo ser humano. Ele tem um ‘poder’ muito forte na nossa vida e por isso é uma ‘energia’ com a qual precisamos aprender a lidar, porque é essa energia que mexe conosco, muito mais do que a sua contrapartida física (o papel, cheque ou moeda). Com o livre-arbítrio, podemos usá-lo para o bem ou para o mal. Se usarmos o dinheiro para gerar boas energias, por meio de ações generosas, nobres, que promovam e engrandeçam as pessoas, aí sim estaremos cumprindo nossa missão – o compartilhar. Entretanto, se usarmos o dinheiro com ganância, egoísmo, desperdício (gastos desmedidos), por status e poder, ou tirando de outrem de forma leviana e maldosa, com certeza estaremos gerando energia negativa e em desequilíbrio com as leis da natureza, provocando, mais cedo ou mais tarde, consequências. No primeiro caso, é a nossa consciência que sabe da importância e da responsabilidade que se tem nas mãos. Já no segundo caso, é o ego materialista, arrogante, desmedido, cego, que estará arbitrando, infringindo-nos a responsabilidade, já que permitimos que isso acontecesse. Devemos aprender a controlar nossas vontades, assumir nossas responsabilidades, deixando de ser a ‘vítima’ que nos consideramos para nos tornarmos autores da nossa própria história.
Responsabilidade
Muitas pessoas se sentem preteridas por Deus, colocando Nele a culpa pelos nãos, por seus desencontros, tristezas, dificuldades, tragédias. Mas como tudo é energia em movimento, tudo está interligado, então todos nossos pensamentos, sentimentos e ações nos trarão algum retorno, bom ou ruim. Como não sabemos o que fizemos em outras vidas, também podemos estar colhendo frutos antigos, ou seja, coisas que fizemos em outras vidas podem estar repercutindo nesta.
Todas as nossas experiências, em qualquer plano, foram criadas por nós, por meio do livre-arbítrio. Somos a soma dos nossos pensamentos, sentimentos e ações e, portanto, tudo o que vivemos fica gravado em nosso corpo astral em “baixo relevo”, quando representam o bem, ou em “alto relevo”, quando da ausência do bem. Neste último caso, o “excesso do alto relevo” terá que ser “raspado” até que esteja nivelado (compensado), o que será feito a cada nova encarnação.
Temos consciência de que nesse oceano de energias onde nos encontramos, somos intensamente influenciados por elas. No caso dos carmas, podemos ser submetidos a forças que nos induzem à ação ou podemos reencarnar já com um plano traçado considerando esse carma. Por exemplo, se reencarnarmos com uma deficiência qualquer ou adquirirmos uma deficiência no decorrer da nossa vida, isso pode ser um carma, mas COMO encarar esse fato é que vai caracterizar nosso livre-arbítrio. A pessoa pode se revoltar e ser ‘amarga’ ou pode superar todas as dificuldades e sofrimentos fazendo disso uma oportunidade para conquistar muitas bênçãos e evoluir. Muitas pessoas se sobressaem e se tornam exemplo de superação, força, coragem, dedicação, vida feliz e realizada. Então, o COMO faz toda a diferença.
Sabemos que é o ego quem determina o grau de influência dessas energias e a faixa vibratória com a qual ele se sintoniza e, desta forma, o ego (criado por nós) é quem atrai e conduz as energias conforme o nosso livre-arbítrio. Quanto mais estivermos próximos de Deus e Suas Leis, mais nossa postura frente às coisas da vida será amorosa, fraternal, ética, respeitosa, ou seja, consciente. E mesmo que venhamos a errar, saberemos que a responsabilidade é totalmente nossa. Não iremos arrumar um “bode expiatório” para jogar a culpa, nem em Deus (“foi Deus quem quis…”).
Como escolher
Podemos concluir que o livre-arbítrio é restrito ao sim ou não. ‘Sim’, quando pensamos e agimos como deveríamos, em total comunhão com nossa alma, que é divina e conhece as Leis de Deus. ‘Não’, se formos contrários às Suas Leis, ou seja, deixando-nos levar pelo nosso ego, que muitas vezes acha que pode tudo, que a sua vontade está acima da vontade de Deus, e assim, ele nos induz a escolhas egoístas, maldosas, distorcidas, com valores invertidos.
Mas será que podemos ser influenciados espiritualmente? Com certeza existe muita influência, porque tudo é energia em movimento e podemos atrair energias negativas justamente por estarmos sintonizados com elas. Novamente, depende do nosso livre-arbítrio “filtrar” nossos pensamentos, dizendo ‘sim’ ou ‘não’. Tudo o que não condiz com as Leis Divinas, com certeza não tem procedência de ‘boas energias’.
Ferramenta de evolução
Para tudo na nossa vida existem alternativas. Depende apenas do entendimento e da opção de cada um – é o livre-arbítrio que definirá se é bom ou mau. Uma faca, por exemplo, podemos usá-la para atender nossas necessidades diárias no preparo da alimentação ou para ferir, matar uma pessoa.
Podemos dizer que o livre-arbítrio é uma ferramenta da evolução, a qual determina o nível de consciência e, consequentemente, o nível de evolução de cada um. A consciência evolui e promove também o altruísmo das nossas atitudes, pensamentos e sentimentos, fazendo com que nos sintonizemos com as Leis Divinas, neutralizando cada vez mais o nosso ego e permitindo a influência direta da nossa alma. Buscamos a redenção do nosso ego porque tomamos consciência de que nossa evolução começa a partir do livre-arbítrio. O caminho é longo e difícil e, para que a sintonia com energias superiores seja constante e crescente, se faz necessária a transformação interior, porque só assim nos manteremos conectados com a nossa fonte primordial, sem ilusões.
Nos níveis mais baixos da evolução do ser, vigora sim o “determinismo”, em que este não faz escolhas e sua evolução, que é lei, acontece por determinação divina, uma vez que esses seres ainda não têm consciência de si mesmos, ou tinham o livre-arbítrio e o perderam pelo mau uso dele. Neste caso, esses seres não têm o discernimento, a responsabilidade e o amor que caracterizam o uso do seu livre-arbítrio de forma esclarecida. Esses seres não têm nenhum conceito de Deus, o que acontecerá somente quando tiverem um nível consciencial mais evoluído.
A realidade que percebemos neste mundo material em que vivemos é fruto do nosso ego e a liberdade de escolha faz com que o ego se iluda e acredite ter todo o poder e a glória. O homem confia mais no seu ego do que em Deus, invertendo os valores e criando um “desvio” no seu caminho e, consequentemente, isso definirá o seu “carma”. Se o homem agir de acordo com a sua consciência divina, ele manterá o equilíbrio com as leis divinas, mas se ele agir de acordo com o seu ego iludido e materialista, ele deverá arcar com as consequências das suas escolhas. Tudo o que não condizer com essas leis, terá que ser “refeito”, nesta ou em outra vida.
Evolução da consciência
O livre-arbítrio não é e nem poderia ser absoluto e, junto com o carma compõe a nossa nova vida, o qual, aliás, pode ser mudado sob algum aspecto, dependendo apenas de nós mesmos. Deus está presente em todos nós, mas só se manifesta no nosso interior quando realmente o desejarmos.
Sabemos que ainda não vivemos em comunhão com o Sagrado, conectados com esta energia divina que está dentro de nós, a nossa alma. Para que ocorra essa mudança de consciência, nosso livre-arbítrio tem que reconhecer nossa essência divina e viver de acordo com ela. Para isso temos que praticar conscientemente o amor incondicional a toda Criação, o que ocorrerá quando conseguirmos cessar o apego à matéria e ao ego. A partir desse ponto será como disse Jesus, nosso Grande Mestre: “Não sou eu que faço as obras – é o Pai em mim que as faz”.
A última vez que o homem usa o seu livre-arbítrio é justamente quando ele faz a escolha de não mais usá-lo, ou seja, ele abdica do seu livre-arbítrio para se reintegrar ao Pai. A partir de então, o homem não mais interage com Deus, mas faz parte Dele.