A perfeição é um atributo de Deus, emana Dele e está em toda sua Criação. É a centelha divina que trazemos em nosso interior e que nos consagra “filhos de Deus”. Na essência somos seres perfeitos, mas essa consciência tem que ser conquistada, degrau a degrau, conforme nossa evolução. Se Deus é perfeito e está dentro de nós, ao nos interiorizarmos em busca do nosso eu interior divino, buscamos a perfeição divina.
O desejo de ser perfeito, portanto, está na essência da nossa alma que anseia, consciente ou inconscientemente, a reintegração com Deus. Esse desejo é que move nossa vida e só por isso vivemos; sem ele, sucumbimos.
O homem precisa apenas aprender a diferenciar o desejo que realmente o conduzirá à perfeição e lhe proporcionará o prazer duradouro e infinito, daquele desejo por prazeres mundanos e transitórios. Tudo o que foge da busca pela perfeição é criação humana, oriunda da ilusão.
Em virtude de sermos tão imperfeitos, não temos a compreensão de que tudo tem um ciclo perfeito e funciona em perfeita sintonia em todo Universo, onde as energias de coesão, adesão, atração e repulsão mantêm cada universo e a vida se transformando ininterruptamente. Tudo faz parte da corrente universal da vida, sendo a vida terrena apenas um elo dessa corrente. Cada um dos micro-universos está interligado e faz parte de um macro-universo, onde um depende e afeta o outro. Os átomos do nosso corpo, por exemplo, formam as moléculas, que formam as células, que formam os órgãos, que formam os sistemas, que formam o corpo, que interage com outros micro-universos internos e externos ao corpo, assim como com a terra, o fogo, o ar e a água, se transmutando infinitamente, pois é impossível destruir a essência que compõe a matéria. Não há um átomo que não tenha um porque, que seja ocasional ou vão. O corpo humano é tão perfeito, complexo e indecifrável, que é impossível esgotar seu conhecimento. Mesmo aquilo que pensamos ser “matéria morta”, devido à limitação dos nossos cinco sentidos, também é energia. Quando vemos um pedaço de madeira, por exemplo, não percebemos nenhum movimento, mas na essência há um incomensurável número de movimentos, que são os átomos que a constituem.
Passamos a vida buscando a perfeição em tudo o que é material, atribuímos valores e caracterizamos tudo como o melhor/o pior, o bonito/o feio, o bom/o ruim. Criamos estereótipos de beleza, de poder e até de felicidade. Todas as coisas são rotuladas conforme a cultura ou interesse de cada povo.
A busca pela perfeição no nosso cotidiano tem o lado positivo e negativo, em todas as áreas da nossa vida. Nos esportes, a perfeição leva à recordes; no trabalho, leva à maior produção, maior qualidade, maior realização pessoal, melhor custo-benefício; na família, promove a melhoria nos relacionamentos e o amor incondicional; na sociedade, corresponde à ética e ao amor ao próximo; na vida busca-se a perfeição para que nossas provas possam ser vencidas; na alma, a perfeição leva-nos à evolução, à busca de Deus em todas nossas ações, palavras e pensamentos. Mas, precisamos ter muito cuidado para não transformar a perfeição em algo negativo como a vaidade, o orgulho, o egoísmo, a culpa, o medo, o preconceito.
Temos consciência de que somos todos seres imperfeitos e, por isso, nada melhores uns do que os outros. Também não podemos nos sentir derrotados por não atingir nossa meta de perfeição em todos os eventos da nossa vida, porque estamos aqui para aprender com as diferenças e evoluir. O homem tem como missão evoluir para a perfeição, mas não em prejuízo de si próprio.
O medo da “falha”, a culpa de não conseguir ser perfeito, a vaidade em se achar melhor do que o outro, o orgulho de não aceitar o erro são sentimentos criados pelo ser humano e, por isso, tão imperfeitos como ele, e que precisamos transformar em força, coragem e humildade. Essas são as ferramentas que temos para nos ajudar a nos conectar com a Luz Divina.
Atualmente inverteram-se os valores, ou seja, busca-se a perfeição ao contrário, por excesso de falta – falta de ética, falta de moral, falta de escrúpulos, falta de amor ao próximo e a si próprio. Através da mente, o homem cai em tentação porque se deixa levar pelas aparências e se aprimora naquilo que destrói ou corrompe. E as pessoas que não compactuam com isso, normalmente, são hostilizadas e, permanentemente, testadas nos seus princípios, valores e sentimentos.
É difícil e lenta a transformação do homem porque ele é bombardeado com tanta ilusão, vinda de todos os meios em que vive, que para resistir é preciso ser muito firme nos seus propósitos e conceitos, além de que ele precisa permitir que sua alma comande seus pensamentos e atitudes.
A busca pela perfeição só avança para o espiritual quando o homem leva um “choque”, ou seja, algo acontece na sua vida que o faz sofrer. O sofrimento e a dor são ferramentas para despertar a alma para o verdadeiro caminho. Assim, o homem se dá conta de que tudo é um ciclo perfeito porque é Criação Divina e que tendo sido criado por Deus, ele também é perfeito na sua essência; passa então a buscar a perfeição do seu Ser e não mais do Ter.
A Cabala explica que o homem precisa trilhar o caminho do meio, ou seja, não pender para os excessos e paixões da vida, mas viver em equilíbrio. Para que isso possa ocorrer é necessário se fazer “restrições” e não se deixar levar pelas tentações.
O homem não se contenta com o equilíbrio, no qual ele tem todas suas necessidades primordiais supridas. Ele sempre acaba se entregando aos desejos do ego que não vê limites para os seus prazeres. Por exemplo, tenho um bom carro e que atende todas as minhas necessidades. Mas por que não ter um que, além disso, possa me trazer bastante conforto, satisfação e status? Um carro que os outros admirem e atribuam o poder que acho que tenho? O que muitas vezes não corresponde à realidade da minha vida, mas o que importa é Ter e não Ser.
Viver em equilíbrio e fazer restrições ainda é uma coisa sofrida e difícil para o ser humano que tem o materialismo muito forte na sua mente. Mas, estamos aqui neste plano para nos tornar seres humanos melhores a cada dia – essa é a nossa meta maior. Ser criado à imagem e semelhança de Deus significa que em nossa essência espiritual somos perfeitos e que essa energia nos induz, consciente ou inconscientemente, à busca da perfeição, mesmo que muitas vezes por caminhos tortuosos e sofridos.
Fazer o melhor a cada dia, pois a perfeição é uma conquista diária. Jesus disse: “Orai e vigiai.” justamente porque só assim conseguiremos nos restringir e melhorar. A nossa consciência é nosso juiz, onde estão latentes as leis divinas e imutáveis que tornam impossível ao homem isentar-se das suas responsabilidades. E não há como fugir dessa consciência, nem no plano material e nem no espiritual.
A arte é um dos recursos mais eficazes para auxiliar o homem em sua tomada de consciência dos laços que o unem a Deus e sua perfeição. A vibração de uma música, por exemplo, quando as notas, compassos e harmonia se encadeiam, emanados dos instrumentos musicais dos músicos de uma boa orquestra, regida por um maestro que ali representa uma alma vibrando em uníssono com a melodia – é um exemplo de perfeição que a só a alma, cuja essência também é perfeita, consegue compreender; a música tem o poder de tocar nossa alma que vibra com a sua harmonia. Arte é puro amor que vem da alma. Será que conseguimos sequer imaginar o que sentiu o compositor da música quando a compôs? Provavelmente estava em êxtase e total sintonia com o cósmico.
É o Amor que tem o poder supremo de nos conduzir à perfeição, porque ele é perfeito. É o sentimento que emana de Deus e quando emana igualmente do ser humano é capaz de transformar, de superar, de unir, de vencer, de trazer a paz e a harmonia, porque esse amor não tem barreiras. O ser humano ainda não compreendeu que esse Amor é o único que pode torná-lo grande – quanto mais ele amar, maior ele será. Esse é o maior ensinamento do nosso grande Mestre Jesus.
A busca da perfeição deveria estar em cada uma das nossas palavras, pensamentos e ações, em todos os eventos da nossa vida. Se cada ser humano fizesse o seu melhor, este mundo seria muito melhor para se viver.
O desejo do homem de atingir a perfeição nunca acaba e mesmo quando ele atinge a consciência crística e se liberta de todas as amarras deste mundo, ainda assim restará o desejo da reintegração com Deus.
Ninguém tem a consciência do “ser perfeito”, pois enquanto o homem existir de forma isolada é porque a reintegração ainda não ocorreu e o “ser perfeito” ainda não foi atingido pelo homem de desejo.
O “ser perfeito” não é conhecido por nenhum Deus-Homem, porque só é possível vivenciar o “ser perfeito” quando nos tornarmos Homem-Deus e então não mais “seremos”, mas “faremos parte”.
No livro “O Legado do Saber” (*) lemos o que segue:
“… do Universo físico (desse gigantesco veículo) emerge lentamente um Universo psíquico. A Intenção sai do material de construção e a Máquina se faz pensamento.
Nenhum homem conhecerá jamais esse Pensamento final. Sabe acaso o inseto em que planeta vive? Mas não será suficiente ter vivenciado, graças ao Saber superior, a reversão universal?”
(*) Guilmot, Max. O Legado do Saber, Curitiba, Ordem Rosacruz – AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 1991, pag. 66-67.