Vivemos num mundo em que tudo é pura ilusão. Acreditamos que nossos cinco sentidos físicos – visão, audição, olfato, tato e paladar – nos dão uma completa percepção do mundo ao nosso redor, quando na verdade eles também nos enganam.
O que nossos próprios olhos veem, por exemplo, não é o que parece ser – o olho humano inverte toda imagem que percebe antes que o cérebro a endireite. Os raios luminosos atingem a retina que é sensível à luz e a imagem formada é invertida. O nervo óptico transmite o impulso nervoso provocado pelos raios luminosos ao cérebro, que o interpreta e nos permite ver os objetos nas posições em que realmente se encontram.
Nosso cérebro só reconhece aquilo que já conhecemos, nos permitindo fazer analogias para reconhecer outras tantas coisas, e assim nos dá a sensação de que conseguimos abranger todo o universo ao nosso redor. Entretanto, existem muitas coisas que nos passam despercebidas porque não são captadas e reconhecidas pelos nossos sentidos. Hoje a ciência já demonstra e comprova muitas delas, desde as mais simples e comuns ondas eletromagnéticas que estão pelo ar até as menores partículas já descobertas pela nanotecnologia e física quântica. Dia após dia novas coisas são descobertas, mas com certeza existem muitas outras que o ser humano sequer consegue imaginar. Assim, nossos sentidos servem apenas para que possamos “sobreviver” neste mundo.
Ao ver uma árvore com a raiz para cima e os galhos e folhas para baixo… parece que há algo errado, incomum até para nosso cérebro e para o que consideramos normal, mas essa árvore invertida tem uma simbologia que representa a Criação e a Reversão Universal, ou seja, o caminho da descida para este mundo material e o caminho de volta ao mundo espiritual. No percurso está a oportunidade de crescimento e a consequente evolução do ser humano.
A árvore invertida simboliza que a raiz sempre está na origem do ser. A raiz de uma planta, por exemplo, está onde sua semente germina, local que lhe dá abrigo, apoio e sustento, ou seja, é a origem e manutenção da sua vida. Essa simbologia quer mostrar a origem de toda a Criação Divina e que, portanto, a raiz do ser humano não está aqui neste mundo.
Se fizermos a pergunta: Qual é a nossa origem? Que, aliás, é a pergunta que todo buscador, que não se contenta com uma simples árvore genealógica, se faz no decorrer da sua vida. Inevitavelmente. Respondendo a essa pergunta, chegaremos onde está a nossa raiz.
A Kabbalah, por exemplo, representa a árvore invertida através da imagem da “Árvore da Vida” (vide figura), que demonstra a estrutura do Universo criado. Podemos interpretar o significado dessa árvore e das suas esferas nos mais diversos níveis de consciência dos quais tivermos acesso, conforme nosso grau de evolução. Considerando-se que “como é em cima é em baixo”, temos a representação do macrocosmo e do microcosmo, que é uma síntese do Universo. Podemos partir, por exemplo, do macrocosmo e chegar ao componente “o mais infinitamente reduzido”, só conhecido atualmente pela nanotecnologia e física quântica. Ao descermos cada vez mais nessa estrutura, vamos espelhando desde a existência do ser, a sua vida, seu corpo físico, seus órgãos, suas células, suas moléculas, seus átomos, até o infinito que o homem pode conceber.
A árvore invertida simboliza, portanto, a descida do homem para o mundo material onde passará por todas as experiências que o levarão ao entendimento da sua origem. É um caminho de mão dupla para cada alma, cuja origem está no Criador, na eternidade. Suas raízes estão no mundo espiritual e seus os galhos, folhas e frutos estão no mundo manifestado ou mundo material. Ao evoluir, faremos o caminho de volta ao Pai, via tronco da árvore e suas raízes, para a reintegração. A Kabbalah nos ensina a transitar com sabedoria entre esses mundos.
Na “Árvore da Vida” cada circunferência denominada de Sephirat (Sephirot no plural) está representando aspectos diferentes da nossa existência, e mais particularmente, da nossa vida, que está firmemente enraizada no nosso Criador. A sephirat que representa o aspecto primordial de Deus é Kether, onde está nossa “raiz”, mas ainda não é nossa origem.
Os galhos e folhas crescem e representam as sephirot inferiores. A Sephirat mais próxima do nosso mundo, a Terra, é Malchut, que, assim como as sephirot superiores, tem tudo porque “assim como é em cima, é embaixo”. Essa é a Sephirat onde os seres da Criação estão no nível da copa da árvore e lhes é dada a oportunidade de evoluir, expressando cada vez mais a consciência do ser divino que se é.
Na “Árvore da Vida” da Kabbalah existem três colunas, a da esquerda, do centro e da direita. De uma forma bem simplificada, podemos dizer que elas representam todos os aspectos do ser, que ora se encontra mais à esquerda, ora mais a direita, mas é somente no centro é que encontrará seu equilíbrio e harmonia. Na vida prática, podemos dizer que vivemos sempre em desequilíbrio, ou seja, ora alegria, ora tristeza; ora temos dinheiro, ora não temos nada; ora estamos saudáveis, ora doentes; ora nos sentimos realizados, ora nos sentimos vazios.
Estamos aparentemente entre mundos paralelos, o mundo físico que conhecemos e o espiritual ou da nossa “consciência”, a qual pode transcender o tempo e o espaço, fazendo nossa conexão com o mundo espiritual e nossa própria Criação. Essa é a consciência da “Árvore da Vida” que nos leva à nossa origem divina e eterna. No mundo físico vivemos de ilusão já que nossa vida é apenas um nível de consciência onde vivenciamos o que percebemos, conforme nosso nível de evolução.
Enquanto o mundo físico nos robotiza, ilude e contamina com o mal, nossa consciência alimenta nossa alma com a Luz Infinita de Deus, pura e sem maldade. Somente quando entendermos que precisamos encontrar nosso centro, ou seja, o tronco da árvore, aquele que nos mantém conectados à nossa raiz (Deus) e a este mundo físico (galhos e folhas), e agirmos, pensarmos e sentirmos com sabedoria, conectados com a Luz Infinita, é que conseguiremos ter uma vida harmoniosa e feliz.
Nosso centro é, portanto, o conhecimento de nós mesmos, da nossa origem. Para isso é preciso evoluir nossa consciência, de degrau em degrau, compreender as Leis Divinas que nos regem, praticando-as, mantendo-nos conectados à energia do nosso Criador.
Na prática, isso significa que precisamos promover nossa autotransformação, ou seja, ser uma pessoa melhor a cada dia, reconhecendo nossas imperfeições e procurando resistir a elas. Mas isso acontece aos poucos, como todo aprendizado na nossa vida.
A Kabbalah nos ensina a ter uma nova postura, assumindo nossas responsabilidades em tudo na nossa vida porque nada acontece por acaso, mas sim, colhemos o que plantamos. Para mudar nossa vida é preciso aprender a fazer restrição ao mal de toda espécie, fazendo nossas escolhas de forma consciente. Isso é exercer o livre-arbítrio!
O mundo material no qual vivemos nos disponibiliza muitos recursos, e consequentemente prazeres, mas todos são momentâneos. Nada que temos ou desejamos deste mundo pode nos proporcionar um prazer duradouro e nos trazer a felicidade que tanto procuramos. Este mundo serve apenas para nos fazer compreender o que é realmente importante e verdadeiro. Nós precisamos ter a humildade de reconhecer que não dominamos nada, não controlamos nada e não sabemos nada. Estamos aqui para aprender e reconhecer a nossa origem, reconhecer quem somos, entender as leis divinas que nos regem (acima que qualquer outra) e o nosso destino final.
Viver de ilusão é, portanto uma escolha, e define um nível de consciência neste mundo robótico, baseado apenas na ilusão dos cinco sentidos humanos, que limitam nossa percepção e nos fazem acreditar apenas naquilo que queremos ver, ouvir, sentir, cheirar, degustar. Viver sem ilusão é buscar a verdadeira realidade dentro de si mesmo, expandindo a consciência para além dos véus da ilusão dos cinco sentidos físicos, e permitir que a Luz Infinita do Criador emane através de nós em cada uma de nossas ações, pensamentos e sentimentos.