O ego pode ser conceituado de maneiras diferentes, uma delas seria considerá-lo o nosso “eu exterior”, ou seja, o “eu” que apresentamos para as demais pessoas com as quais convivemos. Podemos dizer que é o “eu” que nós criamos para nos representar. Desta forma, a existência do ego só tem sentido e utilidade em relação ao mundo exterior, esse mundo materialista, estereotipado e robotizado pelos hábitos, rotinas e culturas no qual vivemos.
O ego pode se mostrar através de diferentes aspectos, dependendo do ambiente no qual se encontra, moldando-se conforme os seus interesses e vontade. Muitas pessoas têm características completamente diferentes em casa e fora dela, por exemplo, variando também de grupo para grupo (amigos, trabalho, faculdade, etc.). Dizemos que usamos “máscaras” diferentes, uma para cada grupo. Não é algo ruim, mas sim formas diferentes de marcarmos nossa presença em cada um.
Assim, quem dá vida a esse ego somos nós mesmos e a “força” desse ego depende da energia que lhe atribuímos, pois somos nós que o “alimentamos” e, portanto, definimos seu poder sobre nós mesmos. Sua interferência na nossa vida é tanto maior quanto mais estivermos voltados para nós mesmos, ou seja, quanto mais formos egocentristas, acreditando que o mundo gira ao nosso redor e que só os nossos problemas e desejos são importantes e urgentes ou que somos melhores que as outras pessoas.
O ego oscila entre dois extremos: ora ele nos induz ao orgulho, à vaidade, à prepotência, ao egoísmo, com uma excessiva confiança em si próprio, e não medindo esforços para atingir seus objetivos; ora ele nos induz à depressão, à frustração, à baixa autoestima, nos derrubando e gerando muito medo e falta de confiança no fluxo da vida. Em ambos os casos, ele ocupa nossa mente invertendo nossos valores, nos enganando e mascarando nossas características negativas, fazendo-se parecer “dono da verdade” e um caminho de luz e felicidade. O que é tudo uma grande ilusão; ele esconde sua verdadeira face: ele é o nosso maior inimigo!
Enquanto estamos focados apenas no mundo exterior, não nos damos conta que essa aparente realidade na qual vivemos é totalmente ilusória. Não percebemos que tudo é muito efêmero, passa muito rápido, acaba em instantes, e mesmo aqueles desejos que levaram anos para serem conquistados, depois de realizados, tornam-se passado. Assim, precisamos sempre de novos desejos, os quais nunca terminarão, porque a vida focada na matéria nos faz escravos do TER.
Por isso não conseguimos dizer que conquistamos a felicidade que tanto almejamos, pois não conseguimos fazer algo para que sejamos ininterruptamente felizes. Tudo muda a todo instante, acaba muito rápido, nossa vida pode se transformar em questão de instantes e não há nada que possamos fazer para TER algo duradouro ou eterno.
Quando paramos para refletir sobre nossas vidas e fazer um balanço ou repensar nossos objetivos e desejos, percebemos que estamos sempre buscando mais e mais coisas, as quais estão sempre no nosso exterior.
Algumas pessoas conseguem entender que essas coisas externas não satisfazem os seus desejos mais íntimos e que a sua verdadeira felicidade não pode depender de algo tão finito e passageiro. Assim, todo ser humano, em algum momento da sua trajetória de vida, passa a buscar por algo mais profundo, significativo, duradouro, principalmente quando já se encontra desencantado com a ilusão do mundo exterior. Ele passa a buscar algo no seu interior, o único local que pode lhe dar as respostas que procura e lhe trazer paz interior. Para isso que isso aconteça, ele precisa reaprender a ouvir seu Eu Interior, ou seja, a sua alma, que está dentro de si mesmo. Coisa que não é nada fácil, pois valorizamos muito mais o ego do que a alma, iludidos que estamos pelos prazeres mundanos.
Nós nos deixamos dominar pelo ego justamente porque ele promete satisfazer todos os nossos desejos. Podemos nos sentir felizes e realizados, mas essa sensação dura muito pouco, é apenas um “flash” de luz, e logo queremos mais, ficamos “viciados”. Como diz Eckhart Tolle (1): “O ego precisa de alimento e proteção o tempo todo. Tem necessidade de se identificar com coisas externas, como propriedades, status social, trabalho, educação, aparência física, habilidades especiais, relacionamentos, história pessoal e familiar, ideais políticos e crenças religiosas. Só que nada disso é você… Mais cedo ou mais tarde, você vai ter que abrir mão de todas essas coisas… O segredo da vida é “morrer antes que você morra”…”
Deus está presente dentro de nós e nos fala através do nosso Eu Interior. Quando deixamos nosso ego predominar, não ouvimos a voz mansa e suave do Eu Interior. Duvidamos do que Ele nos fala. Quando nosso Eu Interior diz “não faça isso”, preferimos ouvir o ego que diz “faça”, porque não sabemos receber “não” como resposta. Quando reencontramos o Eu Interior, aceitamos viver o agora e a tranqüilidade do fluir da vida – é o equilíbrio entre a ego e a alma.
No mundo atual, todos os valores encontram-se invertidos ou “pervertidos”. Chegamos a um estágio no qual todos os egos serão cada vez mais colocados à prova. A violência generalizada, a briga pelo poder nas mais variadas esferas, a injustiça social, as doenças, a falta de ética e moral junto com as tragédias e catástrofes em todos os lugares levam a todos, direta ou indiretamente, ao sofrimento e à dor.
Neste mundo robótico, aqueles que foram exemplos para ajudar na evolução da humanidade, como por exemplo, Buda e Jesus, não são compreendidos. Os homens não conseguem compreender as suas ações, nem as suas palavras. Muitos sequer as conhecem, outros as distorcem. Se aprendêssemos ouvir nosso Eu Interior e reconhecêssemos nossa essência divina, veríamos a magnitude da Criação a qual compomos.
Mudar, transformar e evoluir requer muito esforço e autodomínio, porque se permitirmos, o ego sempre se imporá. Encontrar o caminho de volta ao Eu Interior significa ter que “neutralizar” o ego. Devemos fazer do ego um “instrumento” para nossa evolução, porque é através dele que temos a oportunidade de revelar nosso Eu Interior. É o Eu Interior que nos mantém coerentes com os valores morais, éticos e totalmente conscientes da nossa responsabilidade. Não deixa que “batamos a cabeça” entre um extremo e outro, desequilibrados, completamente desestruturados e perdidos.
A voz do Eu Interior é mansa e suave, mas firme, sem agressividade ou alguma forma de defesa. Se defender de quê, se é Deus que fala por nós? Quando nos dermos conta de que o Eu Interior, que é pleno de Amor, é a única força capaz de acabar com a incerteza, com os medos do ego, e nos levar para o Deus do nosso coração, aí então nos sentiremos finalmente felizes e satisfeitos.
Nossos egos são diferentes, temos nossa individualidade física, mental, emocional, psicológica, mas o ego é nossa criação e um dia ele será aniquilado, desaparecerá. O Eu Interior, ao contrário, é divino, a cada vida expande mais a sua consciência até chegar à Consciência Cósmica.
Enquanto o ser humano fizer suas escolhas em função apenas do seu ego ao invés da sua alma, ele não conseguirá “amar ao próximo como a si mesmo”. Somente o Eu Interior é que pode conduzi-lo pelo caminho do equilíbrio e em direção à reintegração com Nosso Pai.
Bibliografia
(1) Tolle, Eckhart. O Poder do Agora. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.