Foi o mistério da morte, e não o do nascimento, que incitou o homem primitivo a refletir sobre sua condição e seu destino.
Quantas dúvidas e medos assombram e perturbam a existência por conta desse mistério! O ser humano precisa encontrar uma forma de “consolo” por ter que morrer um dia – fato inevitável, indiscutível, mas inaceitável.
E ainda pior é o medo do desconhecido – será que existe vida após a morte? Se existe, para onde vou? Como será a partir de então? Quem sou eu, afinal? Como aceitar o desapego do mundo material e das pessoas amadas? Queremos saber o que acontece após a morte do corpo e todo cristão quer acreditar que sua alma será recebida pelo Pai Eterno que a criou.
O nascimento ainda tem uma explicação científica que basta ao homem comum, porque ele consegue apreender aquilo que é visível, que é o corpo físico. Desta forma, ele praticamente não questiona de onde veio e como veio. Mas na morte, o corpo jaz sem vida, um corpo no qual ele se apegou, sentiu prazer, amou…
Desde que o homem teve consciência da morte, ele passou a buscar respostas às suas dúvidas e uma forma de se sentir amparado pelo Pai.
E assim, até hoje o homem se questiona sobre o que está ou não está escrito na Bíblia, buscando pistas que possam provar ou não a ressurreição ou a reencarnação. É na Bíblia, o livro cristão de todo globo terrestre, que ele tenta encontrar as respostas, já que essa é a sua grande referência.
Sabemos que os textos que constam na Bíblia foram escritos pelos discípulos de Jesus, muito tempo depois da sua passagem pela Terra, conforme a sua lembrança e compreensão. Depois disso, o texto bíblico foi alterado e manipulado, de acordo com as interpretações dos tradutores, além dos interesses de cada um e em cada época. Percebemos isso facilmente quando juntamos um grupo de pessoas e nenhuma Bíblia é igual à outra. Até o Pai Nosso que deveria ser único, é diferente para cada grupo religioso. Também é certo de que cada um que lê a sua Bíblia e entende-a de uma forma diferente, conforme o seu grau de evolução cultural e espiritual.
Mesmo para um leigo no assunto, é sabido que as palavras têm muitos significados, tanto isoladas quanto dentro de um contexto, podendo inclusive assumir conotações diversas. Numa avaliação mais profunda, ainda temos que considerar uma interpretação de acordo com a cultura e a época da história no qual ela se insere. Como tudo se transforma, inclusive a linguagem, as palavras ficam “desatualizadas” e novas palavras são usadas, criadas ou incorporadas de outras línguas, assim como recebem novas conotações e significados, conforme a época e o lugar.
Sabemos também que o ensinamento de Jesus, nosso Mestre, é muito profundo, com sentido figurado, alegórico, metafórico, tornando-se assim inacessível para aqueles que não têm conhecimento suficiente e só conseguem apreender seu sentido superficial e literal – Jesus disse: “Ouça aquele que tem ouvidos para ouvir.” (Mateus, 11:15).
Temos muitas interpretações sobre a ressurreição e a reencarnação. Muitas teorias, conceitos, assim como relatos de experiências místicas e provas científicas. Entretanto, como em toda a história da humanidade, é preciso tempo suficiente no mundo material para que algumas revelações sejam aceitas como verdade universal, uma vez que neste mundo o que impera é o EGO e, consequentemente, o poder que ele acha que detém.
Antigamente, por exemplo, pensava-se que a Terra era plana e fixa, com o Sol, a Lua e as estrelas rodando ao seu redor, o que até parece ser verdade, mas não passa de uma ilusão. Foram precisos muitos séculos, muita luta e sofrimento dos cientistas para convencer os homens de que é a Terra é redonda e ela gira sobre do seu próprio eixo.
Pensava-se também que a Terra era o centro do universo, quando se descobriu que a dimensão total do Universo é completamente desconhecida e talvez nunca venhamos a conhecê-la. Que o Sistema Solar como um todo ocupa um pequeno espaço de uma galáxia espiral à qual chamamos Via Láctea. As estrelas que avistamos no céu são em grande parte maiores que o Sol, sendo cada uma delas pertencente a uma galáxia diferente e que as galáxias ocupam apenas uma centésima milionésima parte do Universo conhecido.
Conceitos, fatos, antes considerados demoníacos, ocultistas, coisas de bruxas e hereges, hoje são aceitos normalmente. Desta forma, as conjecturas sobre ressurreição e reencarnação também serão desvendadas e se tornarão verdades inquestionáveis. Temos que lembrar que no instante seguinte, o conceito já é um “pré-conceito”.
O homem aceita Deus – o incognoscível, o inefável, o desconhecido – como seu Pai Eterno, mesmo sem nunca tê-lo visto ou tocado. Entretanto, não consegue apreender a sua própria essência divina, pois, uma vez que é filho de Deus, é também pura energia como Ele. E é do conhecimento do homem que a energia se transforma continuamente.
Como diz Enel no fascículo intitulado “Post Morten”: “A centelha divina incorporada no homem não pode se apagar ou desaparecer, como não pode desaparecer um átomo constituinte da matéria do corpo físico. Tudo é eterno e se transforma continuamente, pois nada se perde. Esta é a lei comprovada pela ciência no que se refere à matéria.”
Dos 109 elementos químicos existentes na natureza, vinte e seis entram na composição do nosso corpo, sendo que 65% é oxigênio. Se adicionarmos carbono, hidrogênio e nitrogênio, temos 96% da massa total do ser humano, que inclui os 42 litros de água que circulam em um organismo adulto.
O homem sabe que quando morrer seu corpo físico irá se transformar, pois na natureza nada se perde, tudo se transforma. Os elementos químicos que o compõem serão absorvidos por outros organismos, que também se transformarão um dia, sendo esse ciclo infinito e não existindo qualquer possibilidade desses componentes regredirem para se reestruturar naquele corpo que existiu um dia, da forma como ele era. Assim, a ressurreição da carne, após sua decomposição, é impossível para o indivíduo, só podendo ser considerada na Terra como um todo.
A discussão sobre o tema é freqüente. Muitos defendem a “ressurreição da carne”, definindo-a como um dogma para que a questão não seja questionada – “é porque é”, pois com certeza muitos conceitos deveriam ser mudados, assim como colocariam em xeque o poder da igreja.
Se buscarmos provas da reencarnação na história da humanidade, teremos inúmeras. Se buscarmos na ciência, teremos outras tantas. Os maiores Mestres, filósofos, cientistas, todos relatam experiências sobre o assunto.
A questão é: o que queremos ou não aceitar como verdade. Se eu assumir que aceito a reencarnação, eu tenho que assumir minha total responsabilidade sobre todos os meus atos, pensamentos e sentimentos, assim como retornar a este plano terreno para resgatar minhas dívidas. Isso não é fácil. É difícil para muitos aceitar uma situação atual como carma de outra vida. É difícil fazer a transformação interior para ser um ser humano melhor a cada dia, assumindo seus pecados e erros, pensando que isso auxiliará na sua evolução. Principalmente quando falamos de pessoas cruéis, desumanas, sem consciência de si e do mundo que as cerca.
A ressurreição, por sua vez, simplifica o caminho de volta para Deus, Nosso Pai. Da morte salta para a salvação ou “fogo eterno”. No Cristianismo, o Juízo Final será o julgamento por Deus de todos os seres humanos que passaram pela terra. “E irão estes (maus) para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.” (Mateus 25:46).
Deus, que é energia de puro AMOR, é personificado num “Grande Juiz” que tem registrado todos os fatos da vida de cada ser humano, os quais colocará numa balança e decidirá seu destino, arbitrariamente e sem perdão com chance de correção. Até um Juiz do plano terreno é mais flexível.
E admitir que, após a morte permaneceremos em repouso, esperando até o julgamento final, quando uns serão redimidos e descansarão enquanto outros padecerão eternamente, é muito cômodo, pois não há o que fazer. É só esperar pelo “veredicto”. Sendo os seres humanos tão imperfeitos, como seria esse julgamento?
Se ainda Deus nos deu o livre arbítrio, e sabe que somos seres em evolução neste plano, como pode Ele nos julgar tão sumariamente, sem nos dar a chance de errar e corrigir nossos erros? Muitas vezes o despertar para nossos erros se dá a posteriori, às vezes no plano espiritual, que é quando constataremos as consequências desses erros, porque o conceito de pecado, ética, respeito, depende da evolução de cada um.
Constatamos que a reencarnação é uma ferramenta da Lei Natural e Divina para “evolução do ser”, enquanto que a ressurreição sugere uma “estagnação do ser” naquele ponto.
Mas, se ressurreição ou reencarnação é primeiramente uma questão de CONHECIMENTO e FÉ – uma compreensão particular. Nossa imaginação, nossa vida ilusória, nosso ego, nossa esperança e expectativa, nos conduzem para onde permitirmos, conforme o nosso livre-arbítrio. Depende de cada um a busca pela sua verdade.
É a mesma questão de querer definir “Deus”. Como definir o incognoscível? Como definir o desconhecido? É o Deus do nosso coração que nos conduzirá. Cada um, no seu nível de consciência, compreenderá o destino do seu ser de uma forma diferente, conforme os conceitos que conseguiu assimilar, compreender e aceitar como verdade.
Assim, se tudo é energia, inclusive nosso corpo físico e nossa alma, e toda energia se transforma do mais denso para o mais sutil e vice versa, porque tudo faz parte do Todo e o Todo faz parte de tudo, será que “morremos” quando saímos do plano espiritual para entrar num corpo físico, ou será que “morremos” quando saímos do corpo físico para retornar ao plano espiritual? Nem um, nem outro, porque a energia da alma é a mesma. É a alma que é a VIDA VERDADEIRA, a centelha divina. Assim, não morreremos nunca, é apenas mais um CICLO.
A palavra “morte” foi criada pelo homem em contrapartida da palavra “vida” – a morte é a ausência de vida, assim como a escuridão é a ausência de luz, o mal é a ausência do bem. Isso significa que teoricamente a morte não existe. O que existe é a vida eterna, não importa se está no plano material ou no espiritual.
Desta forma, será que não podemos considerar tanto a ressurreição como a reencarnação como partes de um mesmo ciclo, ou seja, encarnamos no plano terreno e ressuscitamos no plano espiritual? E considerando ainda que, somos seres em evolução, por que não reencarnar e ressuscitar quantas vezes forem necessárias, assim como os ciclos: dia e noite; estações do ano; rotações dos astros; etc., uma vez que fazemos parte do Todo?
Afinal, nossa alma foi criada por Deus à sua imagem e semelhança sendo, portanto, composta de pura energia que precisa de um corpo físico para se manifestar neste plano. Isso é “encarnar”, pois é preciso o “corpo de carne”. E quando o corpo morre, nossa alma fica livre e ressurge no plano espiritual, novamente em forma de energia sutil, assim como era antes de encarnar.
Isso implica considerar que a ressurreição, após a morte do corpo físico, ocorre no plano espiritual, quando a alma volta à sua origem. É a ressurreição para a vida verdadeira – de onde viemos e para onde retornaremos eternamente até a reintegração.
Enfim, cada um chega à “sua verdade”, que também se transforma conforme se evolui através do conhecimento e da fé, pois é com o descortinar dos véus que envolvem a nossa alma que elevamos nosso nível de consciência.
O mistério se mantém, primeiramente porque essa certeza só a teremos quando vivenciarmos a transição e, em segundo lugar, porque neste plano vigoram as diferenças entre os homens, aquelas que os fazem evoluir, e enquanto houver diferenças não haverá unicidade de conceitos. O “ser” continua individualizado, ou seja, ainda não “faz parte” do Todo. E … nada acontece por acaso!