O silêncio é universal, está contido em toda a Criação e faz parte de todos os momentos das nossas vidas. Está em todos os lugares e não estaríamos exagerando se o comparássemos à Luz, uma vez que está tão presente quanto ela.
Para falar do silêncio, temos que enfocá-lo sob vários aspectos. É como se falássemos de vários silêncios.
O silêncio pode ser bom ou mau. Por exemplo, o silêncio do rancor que fica remoendo suas mágoas; o silêncio da traição aguardando para se esquivar na hora esperada; o silêncio da morte quando o ego não arbitra mais. Da mesma forma, temos o silêncio do sábio, que se resguarda das palavras para falar na hora certa, usando as palavras apropriadas e com sabedoria. O silêncio pode, portanto, energizar e purificar, assim como pode destruir.
O silêncio também pode suscitar paz, mas para muitos significa o oposto: medo e solidão. Para muitas pessoas o silêncio amedronta e é encarado como uma espécie de “castigo”, de isolamento obrigatório, de “calar a boca” forçadamente. Achamos que precisamos preencher os espaços vazios com falas, músicas ou sons quaisquer. Não gostamos do silêncio, pois ele nos força a ficarmos a sós – estar sozinho consigo mesmo parece ameaçador; e isso gera inconscientemente o medo. Medo de se encarar e se perceber como ser individual e único. Esse medo provoca um descontrole do ego, deixando à mostra sua fragilidade.
Muitas pessoas acreditam que o silêncio é sinal de solidão e sinônimo de tristeza, enquanto poderia ser, no mínimo, uma grande oportunidade de introspecção e reflexão. Todo ser humano deveria reservar um tempo do seu dia para esse isolamento e usá-lo para a sua transformação interior, obrigando-se a ser sincero consigo mesmo e predispondo-se à sua própria melhoria como ser humano.
No ritmo frenético da nossa vida atual, “silenciar” é uma ação que praticamente não experimentamos. Sequer conseguimos imaginar essa ação e até parece que ela não combina com nosso ritmo. E mesmo quando buscamos o silêncio, não conseguimos nos concentrar e relaxar totalmente porque não nos desligamos dos sons do mundo exterior e do interior da nossa mente.
Só conseguimos nos aceitar “produtivos” se estivermos nesse ritmo incessante e voltado para o mundo exterior, ou seja, nos transformamos numa “máquina” e sem direito a quebrar, enguiçar, parar, e muito menos a silenciar… Tornamo-nos escravos de nossas próprias ilusões.
Existem sons nos rondando o dia todo. O ser humano está tão habituado com os sons a sua volta que não sabe viver sem eles. O homem não consegue viver sem falar e quando está sozinho, fala até consigo mesmo, porque ele quer ser ouvido. Também a sua mente não para nunca – vive num turbilhão interminável de pensamentos. Ele simplesmente não consegue imaginar o que é o silêncio na prática. Sua mente não consegue “silenciar”. Isso também porque o ego não permite, uma vez que se sente ameaçado e, não quer perder seu poder.
A busca pelo silêncio só acontece pelo desejo do homem, normalmente aquele que está em busca de si mesmo e de alguma coisa que dê sentido à sua existência. Para que possamos realmente compreender e vivenciar o verdadeiro silêncio que é natural e divino, devemos ir além e nos abrir para o “desconhecido”. A mente pensante é importante, mas limita nosso entendimento e percepção, não nos permitindo compreender que ela é apenas um aspecto de toda a consciência que somos nós.
A definição do silêncio, sob uma compreensão mais mística, significa a mente desativada, ou seja, uma completa ausência de pensamentos. É o estado de profunda quietude. E podemos encontrar o silêncio em qualquer lugar, mesmo no meio de um aglomerado de pessoas falando ou gritando.
O silêncio é o único caminho que conduz a Deus. Quando calamos, Deus fala. O silêncio é um convite à verdadeira liberdade da alma que pode se desvincular de todos os apegos externos, do mundo ilusório, inclusive do ego e, portanto, de todos os julgamentos, promovendo a completa sintonia com o Eu Interior.
A humanidade estudou e continua estudando os mistérios, aquilo que o ser humano não consegue apreender através dos seus cinco sentidos, e mesmo assim, continua incapaz de acessar o poder que existe nesses mistérios. Um deles é o silêncio interior.
Só através da expansão do nosso nível de consciência que conseguiremos acessá-lo. Tudo acontece no nível da alma, quando o Eu Interior emana sua luz e divindade. No silêncio, o Verdadeiro Eu é revelado e a sabedoria é experimentada. Há o despertar de energias sutis e divinas transformadoras, que promovem o equilíbrio, a harmonia, a sintonia e total comunhão com Deus.
Como diz Clarice Lispector: “O silêncio não é o vazio, é a plenitude.”
Silêncio é um substantivo abstrato, não palpável, não visível. Esta descrição lembra, inclusive, o que de fato ocorre no “estado de silêncio” – o incognoscível. Quem sabe ainda ele poderia ser comparado a um vácuo quântico, um espaço no qual aparentemente não existe nada, mas é nele que podemos encontrar nossa energia mais perfeita e sutil e interagir com ela.
Falamos, lemos, estudamos, sonhamos, imaginamos, achamos que conhecemos o que é o silêncio, mas vivenciá-lo na sua plenitude, muitos poucos o conseguiram. Às vezes o atingimos por alguns breves segundos ou minutos, mas o mundo exterior é uma âncora pesada demais que não nos deixa desconectar. É preciso muita coragem e fé.
Colocamos músicas suaves, entoamos sons vocálicos, respiramos profundamente, ou seja, buscamos recursos que elevem o nível vibratório dos nossos corpos e do ambiente ao nosso redor e que, ao mesmo tempo, nos tirem o foco do mundo exterior. Entretanto, o ritmo frenético e incessante dos nossos pensamentos muitas vezes continua dentro da nossa mente e não conseguimos atingir a plenitude do silêncio interior.
Silenciar requer habilidade e fé, assim como tocar piano. Se você quiser verdadeiramente, é possível você tocar piano, mas primeiro você terá que treinar muito para que essa habilidade se manifeste. Silenciar é a mesma coisa, precisamos reaprender, redescobrir o caminho para “silenciar” nossos corpos físico e mental e, assim, conseguir acessar nosso Eu Interior. É preciso muito treino para senti-lo e vivenciá-lo.
A natureza é um dos recursos mais poderosos para se encontrar o silêncio interior. O “estado de silêncio” da mãe natureza, onde os sons audíveis a nós humanos fazem parte do seu contexto, representam o mais completo equilíbrio e harmonia natural. Esse universo é um dos melhores exemplos de paz e comunhão divina, onde tudo está intimamente relacionado e dependente de forma natural. O ser humano dificilmente reconhece isso e se entrega a essa imensa dádiva divina.
A meditação é muito utilizada com esse intuito. O caminho para o silêncio se inicia com concentração para que haja a redução da agitação, dos sons do mundo exterior e de pensamentos, promovendo assim a calma e o relaxamento. Aos poucos é possível sentir a transmutação de pensamentos e sentimentos.
A meditação requer duas atitudes fundamentais: a primeira é NÃO OUVIR, ou seja, selecionar o que ouvir, concentrar-se no objetivo final e gerar uma freqüência vibratória em sintonia com o objetivo final. Fechar os ouvidos e se permitir apenas focar o Eu Interior. A segunda atitude é a de TRANSMUTAR OS SONS, ou seja, purificar as energias dos pensamentos e emoções, direcionando-as para o objetivo final. A partir daí deve se entregar ao Mestre Interior e ouvi-Lo sem interferências do ego.
Diz-se que o estado de meditação é a “cerimônia do silêncio”. Parece abstrato, mas o silêncio existe. Existe porque o percebemos, ou seja, ao meditar ficamos conscientes do vazio do silêncio e também da nossa consciência. Na meditação você tem uma experiência de estar consciente, mas sem pensamentos. E com a prática, essa experiência fica cada vez mais familiar e intensa.
O silêncio suscita em nós um dos mais sublimes sentimentos que é a Paz. Podemos encontrar a Paz em todos os níveis de consciência do ser, dependendo da nossa evolução espiritual e o silêncio vai crescendo conforme vai sendo aprofundado o nível de consciência. A paz também está vinculada à consciência de cada um, conhecida como “paz de espírito”.
Percebe-se que o silêncio é um “ingrediente” essencial para que se atinja a mais completa Paz. No primeiro caso, sabemos que “aqui e agora” temos o poder de migrar em diferentes níveis de consciência, como por exemplo:
Num nível mais materialista, posso estar em paz se sou capaz de comprar tudo o que desejo; se me sinto seguro ao andar pelas ruas; se estou em harmonia com meus familiares; se tenho uma fonte de renda. Neste nível de consciência, a paz significa TER tudo o que se quer.
Num nível menos superficial, posso estar em paz se estou com minha consciência tranqüila porque cumpri com meu dever de cidadão; fui solidário; contribui para a melhoria do meio ambiente.
Num outro nível mais profundo, posso estar em paz se estou fazendo minha transformação interior, mudando para melhor os meus sentimentos, pensamentos e ações; estou controlando as intromissões do meu ego; estou desenvolvendo meu lado intuitivo.
Entretanto, somente quando eu expandir minha consciência para além do conhecido, é que vou de encontro ao meu Eu Interior e encontro a Paz Profunda, no mais completo silêncio.
O silêncio interior é que nos leva à Paz Profunda. Esse caminho também é silencioso porque deve ser descoberto e desbravado individualmente, cada um na sua hora e de acordo com seu nível evolutivo. É um processo lento e nunca termina, pois quanto mais o estudante eleva seu nível de consciência que o conduz à Luz Maior, tanto mais difícil essa transmigração acontece; quanto mais evoluída a alma, mais difíceis as provas e mais estreito o canal que a conduz.
Não há como racionalizar ou controlar o silêncio, deve-se simplesmente permitir que essa força grandiosa e divina o conduza para o interior de si mesmo. O encontro da Paz Profunda requer que tenhamos uma filosofia de vida voltada para o conhecimento de nós mesmos – a consciência de que cada um de nós e Deus são um só.
O silêncio interior exige serenidade, intenções e ações puras, coração puro, porque só assim é possível ouvir a “voz do silêncio” ou a “voz de Deus”.
Dizem que “o silêncio é o repouso da mente em Deus”, ou seja, é onde acontece a comunhão com Deus – Ele está em nós e nós estamos Nele, finalmente somos UM. É quando já não “somos” e sim “fazemos parte” do Todo. Esta é a Paz Profunda que tanto ansiamos vivenciar. Nossa tarefa como seres humanos é construir “pontes” para transcender a ilusão de estarmos separados de Deus e essa ponte é através do silêncio absoluto.
EXERCÍCIO DO SILÊNCIO
Procure um local tranquilo, no qual você não seja interrompido.
Se quiser pode colocar uma música instrumental, suave e em tom baixo.
Se gostar, acenda um incenso.
Tome então uma posição relaxada: bem acomodado(a) numa cadeira, com as costas eretas, mãos sobre as coxas; olhos suavemente fechados.
Faça pelo menos umas três respirações profundas, inspirando e exalando o ar pelo nariz.
Procure relaxar todo o corpo da melhor forma que você puder, eliminando qualquer tensão, em qualquer parte do seu corpo.
A partir desse momento, não visualize, nem imagine nada. Deixe sua mente vazia. Quando vier algum pensamento, faça com que ele vá embora. Ouça só a música, se for o caso, para que os pensamentos não interfiram na sua concentração e relaxamento.
Permita-se focar no vazio total do seu corpo e da sua mente, isolando-se do mundo exterior.
Fique desta forma durante algum tempo.
Agora, bem relaxado(a), procure aprofundar-se mais em você mesmo… em total silêncio… relaxe… permita-se ir para dentro de si mesmo…
Vá cada vez mais fundo… sem medo. É o seu eu-interior que te aguarda, solitário e silencioso.
Sinta a Luz Infinita tomar conta de todo seu corpo…
Abandone-se… Se entregue a Ela.
Este é o contato com o seu lado divino, sinta-se envolvido pela Luz Infinita.
Confie nessa Luz e se entregue a Ela.
Fique desta forma durante algum tempo.
Retorne com calma e tranquilidade à consciência objetiva… aumente o ritmo da respiração (aos poucos os músculos vão retomando os movimentos), movimente os pés… as pernas… os braços… os ombros… a cabeça… todo o corpo… abra os olhos.
Se achar necessário, anote a sua experiência.
Procure fazer esse exercício pelo menos uma vez ao dia para se sentir equilibrado e centrado na realização das suas atividades diárias, aprimorando-se no domínio de si mesmo.