Mesmo tendo o conhecimento da existência do meu ego, e sempre buscando controlá-lo, um dia me vi frente a frente com ele. E eu achava que ele já estava bem controlado. Mas não! E a coisa mais incrível, é que esse confronto foi se manifestando por intermédio de alguém que eu nunca imaginei que pudesse acontecer. Foi impactante.
Tudo começou quando tive que cuidar da minha irmã especial, que tem 48 anos e retardo mental. Ela não tem noção ou consciência das coisas; não tem discernimento; está muito voltada para si mesma, suas necessidades e divagações; não consegue estabelecer uma comunicação com outras pessoas, apenas consigo mesma. Não consegue aprender nada novo e resiste a mudanças quaisquer sejam elas. Ela é extremamente controladora e também desenvolveu muitas manias, hábitos irredutíveis.
No seu silêncio, muitas vezes sem se expressar em palavras, ela se impõe e invade a minha vida e a casa, pela força da sua energia mental. Ela também desenvolveu muito a visão e a audição, captando tudo do seu jeito e com seu entendimento.
Além disso, ela tem uma sensibilidade aguçada, mas totalmente desequilibrada, e não tem capacidade para entender ou aprender o que é isso e como cuidar das suas energias. Fato este que leva a um descontrole, gerando problemas no ambiente da casa e para mim.
Depois de mais de dois anos de cuidados com minha irmã, me dei conta do tamanho da dedicação, paciência, abnegação, aceitação e amor que se fazem necessários. Eu não havia convivido com ela antes, só a encontrava em alguns dias de férias ou feriados, e não tinha ideia do que era cuidar dela. Ela ficava com minha mãe, que faleceu. Nesse tempo com ela, pude constatar que ela não foi estimulada, ensinada, preparada, para ter mais independência e aprendizados básicos de higiene, comunicação e convivência com outras pessoas.
Diante de tantos problemas, de todos os tipos, fui aos poucos percebendo nas suas características, coisas que me incomodavam muito. E entendi que várias dessas características, eu também tinha, em um grau bem menor é claro, mas que me colocavam em confronto direto com meu ego. Ela se tornou, aos poucos, um “espelho”, que me chocava a cada nova identificação de alguma característica que eu me conscientizava.
Nessa hora, a gente se dá conta do quanto alguns dos nossos defeitos incomodam aqueles que convivem conosco, pois se está me afetando, com certeza eu devo afetar as outras pessoas também.
Como é difícil aceitar que temos um ego e o quanto ele interfere na nossa vida! A maioria das pessoas não se dá conta da manifestação do seu ego nos seus pensamentos, palavras e atitudes. Provavelmente por desconhecê-lo ou por não o reconhecer.
Para entender melhor sobre essa questão, vamos pensar na dualidade “ego x alma”. O ego normalmente se impõe, se sobrepondo à nossa alma, desviando-nos da nossa consciência. Ele fala na nossa cabeça de forma incisiva, mostrando poder, e sempre vai nos induzir a escolhas baseadas em vaidade, arrogância, orgulho, ciúmes, inveja, e tantos outros vieses do ser humano.
Já a “voz da alma” inspira-nos de forma suave, trazendo intuições, insights, e para ouvi-la, precisamos silenciar, porque ela fala baixinho. É uma voz que sempre vai nos guiar pelo caminho do bem, da ética, do amor incondicional, em consonância com a nossa consciência.
Esse “choque” com meu ego, acendeu em mim alguns pontos que realmente preciso mudar para ser um ser humano melhor e para evoluir consciencialmente, me permitindo ouvir minha alma. Sinto que esta é uma oportunidade que Deus me deu para me chacoalhar, já que eu ainda resisto.
Percebo que estou tendo esse “choque”, justamente para perceber o que falta, ou o que precisa melhorar para eu ouvir mais minha alma e estar alinhada com ela. Mantendo meu foco no ego, eu não consigo ouvir minha alma. Vivo com a mente conturbada, cheia, e assim não me permito ter a leveza e sabedoria que minha alma me traz.
Vendo essas características na minha irmã (“espelho”) e o quanto são de difícil convívio, me fizeram despertar. Tive que encarar de frente, tendo um choque de realidade. E fui trazendo aos poucos para a consciência, passando a “olhar e vigiar” cada pensamento, palavra e atitude. Sim, somente ficando atentos, conseguimos perceber cada característica e fazer alguma coisa para mudá-la.
Nas horas mais difíceis, ia refletindo sobre os acontecimentos, me assustando com minhas conclusões. Quem não se impacta quando olha para um “espelho” e vê ali refletido tudo o que você não quer ver? Como por exemplo:
Ansiedade
Controle
Rotina rígida/inflexível
Reclamação
Resistência
Mas além dessas características, que dificultam a vida e trazem uma energia “pesada”, também me deparei com algumas características boas dela, as quais eu luto bastante para melhorar, e são pontos muito importantes para nossa evolução. Essas características foram as que mais me impactaram:
Persistência
Disciplina
Para acessar o que nossa alma tem para nos dizer, precisamos em primeiro lugar de “silêncio” na mente, e também de muita persistência e disciplina para movimentar nossas energias e nos conectar com as energias sutis e inspiradoras da alma.
Ter essa consciência dos nossos defeitos e limitações já é um grande passo para que possamos fazer nossa transformação interior. Isso é imprescindível.
Claro que tudo isso, minha irmã não tem a mínima percepção e entendimento. Ela age por instinto, com muita limitação mental, presa num ciclo infinito, mas dentro disso é movida pelos seus interesses e vontades egoístas, muito fortes, com verdadeira obsessão, ou seja, a qualquer custo.
Já tenho uma trajetória de terapias e muita reflexão, com experiências tristes e muito sofrimento. Não precisamos chegar nesse ponto... é a resistência para mudar que leva a isso. Mais dor para perceber o que está à nossa frente. Muita coisa já melhorou, mas algumas coisas ainda impactam na minha vida e precisam ser transformadas.
Um fator muito importante nessa experiência é ter a humildade de se perceber e aceitar isso em você. De nada adianta você negar, fugir, disfarçar, resistir. Quem vai sofrer é você mesmo. Não é fácil mudar a si mesmo, e é bom lembrar que jamais temos como mudar a outrem.
Para se perceber, olhe o outro como se fosse a sua imagem num “espelho”. Fique atento a tudo aquilo que irrita você ou é uma crítica aos outros; perceba também quais são os seus julgamentos (fazemos isso o tempo todo), porque eles também o revelam; e ainda preste atenção justamente em tudo o que você está negando, fugindo e procrastinando.
Tudo isso nos monta um “quadro” da nossa real imagem, aquilo que temos que olhar, com humildade e aceitação. Não precisamos nos culpar, castigar, sofrer, mas precisamos nos “conscientizar” para poder mudar.
Para mudar, você tem que querer, ter intenção firme, ou seja, a sua vontade de melhorar deve estar acima de tudo. Você deve confrontar seu ego e dizer a ele “você não me convence mais, vou fazer o que estiver em sintonia com meu coração”. Ouvir nossa alma vai nos conectar com o “amor incondicional” e somente este amor poderá nos transformar.
Mudar é um caminho difícil, mas definitivo se realizado com firmeza e intenção, nos conduzindo ao propósito da nossa vida. É para isso que estamos aqui.
Que haja Luz!


Perfeita colocação
É uma jornada e tanta Denise
Obrigada pela contribuição
Parabéns Denise , por conseguir extrair das situações difíceis da vida aprendizado