Posso dizer que tive seis salvamentos nesta minha vida, os quais me deixaram grandes aprendizados.
1º salvamento - Afogamento
Quando eu tinha uns 14 anos, quase morri afogada no mar em Navegantes – SC. Naquela época era uma praia quase deserta. Poucas casas e quase nada de comércio e opções para turistas. Meus pais tinham casa ali, eu estava acostumada com o mar e sabia nadar.
Entretanto, num dia o repuxo do mar estava forte. Eu cai num buraco fundo e a corrente me levou embora. Não adianta você saber que deve ter calma e ter as orientações de como voltar. As emoções falam mais alto e, neste caso, era o pavor. Só ficou o instinto de sobrevivência.
Uma amiga, a Rosana, que estava na praia comigo, viu minha agonia e entrou para me ajudar, sem saber nadar. Ela chegou perto de mim e, com uma onda, fiquei quase ao lado dela. Agarrei-a e a apertei muito forte nos ombros. Estava em desespero. Hoje sei que não se pode fazer isso. Ela podia ter morrido.
Mas aí veio a proteção do anjo da guarda, de Deus, ou o nome que você quiser dar... com empurrões das ondas, devagar, conseguimos sair da água. Eu estava roxa, e deitei na areia. As pessoas que estavam naquele local da praia, ficaram todos em volta. Não me lembro de detalhes.
Depois de alguns anos, avaliando a situação vivida, senti que tive uma nova oportunidade.
2º Salvamento – Tombamento de ônibus na serra
Meus pais moravam em São José – SC e eu em São Paulo – SP. Num final de semana, que seria o Dia das Mães, fui de ônibus para ver minha mãe, levando um presente que coloquei dentro do ônibus, acima do meu banco.
No trecho de serra, antes de Joinville, no meio da madrugada, todos dormindo, o ônibus virou. Parecia que o mundo estava virando de ponta cabeça. Foi muito desespero, não sabia sobre o que o ônibus estava apoiado, qual o local. Será que podia acontecer mais alguma coisa? Estava em terra ou água?
Eu consegui ainda pegar minha bolsa e o presente do Dia das Mães. Todos saíram pelo para-brisa do ônibus. Vi de um lado o morro, onde o ônibus bateu, e do outro o precipício...
Todos sobreviveram, com machucados e gravidade diversos. E conforme os ônibus noturnos passavam pela rodovia, aqueles que estavam bem, recebiam carona até onde era seu destino, sem as bagagens. Estas recebi no dia seguinte na rodoviária de Florianópolis - SC.
Mais uma vez, fui protegida, juntamente com todos os outros. Mais uma bênção e um sinal de que eu tinha algo a cumprir nesta vida.
3º Salvamento – Despressurização do avião
Eu estava viajando a serviço, pelo Brasil, sozinha, e embarquei num avião saindo de Manaus - AM, indo para Belém - PA. O avião fez uma escala em Santarém, onde o avião ficou com a lotação completa.
O avião decolou, e logo em seguida, começou a despressurização. Mas, o detalhe ainda pior é que as máscaras de oxigênio não caíram para que pudéssemos colocá-las, e a situação ficou descontrolada e agonizante.
O piloto fez um retorno imediato, e desceu novamente no aeroporto de Santarém. Entretanto, como esse era o último voo que passava ali, as luzes tinham sido apagadas e o aeroporto estava sendo fechado. Com certeza, devem ter acionado uma emergência e o avião aterrissou. Imediatamente foram abertas as portas e desceram os escorregadores infláveis para todos descerem. Não precisa nem contar o desespero de todos, ficando sem ar para respirar e sem saber o que estava acontecendo.
Áreas do aeroporto tiveram que ser reativadas. Alguns passageiros desistiram daquela viagem e foram embora. Os mais confiantes, ou loucos, ficaram esperando para reembarcar no mesmo avião, após sua manutenção. Eu inclusive.
Lembro-me que durante os minutos de agonia dentro do avião, com pouco ar para respirar, e aquele aperto no peito, eu estava surpreendentemente calma. Nunca mais me esqueci disso. Simplesmente, me entreguei à Deus e que fosse feita a Sua vontade.
Depois de muita espera, o avião foi liberado, abastecido, e lá fomos nós, embarcar para nosso destino, Belém. Chegamos bem, mas tive uma noite conturbada e difícil. Nunca mais esqueci essa história.
Desta vez, tive uma sensação de que estava acolhida pelos meus amigos espirituais, que me mantiveram calma e confiante. Mas hoje, só em lembrar da ocorrência, mesmo depois de tanto tempo, ainda dá um aperto enorme no peito, como se estivesse vivendo novamente tudo aquilo.
4º Salvamento – Cirurgias invasivas
Em 8 anos, fiz 7 cirurgias, algumas grandes e complicadas. Estas marcaram a minha vida, que se transformou em uma sequência infinita de problemas e sequelas. Fiz 3 cirurgias na coluna, mas a primeira delas foi extremamente invasiva e colocou minha vida em risco. Tive que me preparar para fazê-la, por causa do tempo muito extenso de sangramento que eu teria.
A dor no pós-cirúrgico foi algo que não imaginei que um ser humano conseguisse suportar. Essa cirurgia trouxe sequelas e problemas, junto com muita dor, que se estendem até os dias atuais.
Ao passar por essa experiência, e por um sofrimento inimaginável, hoje dou valor às pequenas coisas que posso fazer sozinha, como andar, tomar um banho, ir ao banheiro, me trocar, escovar meus dentes e tantas outras coisas. Essas ações, que nem damos importância no dia a dia, são maravilhosas de poder fazer sem precisar de ajuda.
Considero que, mais uma vez, fui muito protegida e acompanhada pelo plano espiritual para que superasse. Essa escolha de fazer a cirurgia da coluna foi um erro, confiei demais e não devia ter feito, pois mais me prejudicou do que resolveu meus problemas de escoliose e lordose. Então, também aprendi que sempre devemos consultar vários médicos antes de nos submeter a uma cirurgia, pois esta pode não resolver nossos problemas e ainda arrumar muitos outros.
5º Salvamento – Eu no meio do tornado
Eu era voluntária da Rede de Combate ao Câncer de Ourinhos - SP, e estávamos participando da Festa das Nações, num espaço aberto de uma faculdade próxima à cidade. Havia uma sequência de tendas pequenas, uma para cada entidade, onde eram vendidos diferentes tipos de alimentos e, na frente de todas elas, ficavam várias tendas gigantes, que abrigavam as mesas e cadeiras para as pessoas se sentarem.
Eu estava mais passeando do que ajudando, porque ainda estava em recuperação da cirurgia grande de coluna. Havia feito uma artrodese da lombar, até o cóccix, com enxerto ósseo no lugar dos discos. Estava com movimentos bem mais lentos e limitados.
O tempo estava fechado, nuvens pretas anunciando uma chuva forte. Em certo momento, vi um redemoinho gigante vindo na direção das tendas. Aquela hora eu não sabia, mas era um tornado. Foi muito rápido. Ele entrou por baixo das tendas gigantes e foi levando embora umas e destruindo as outras, que caiam para todos os lados.
Todos correram para se salvar. Mas eu não conseguia correr. Me abracei no mastro da tenda gigante na minha frente, com muito medo. O tornado simplesmente levantou aquele mastro, que deslizou de dentro dos meus braços para o alto. Podia ter morrido com um mínimo de inclinação desse mastro de ferro.
Não havia tempo para pensar, andei o mais rápido que pude para dentro da tenda da entidade que eu trabalhava. Não tinha mais ninguém por perto. Tentei me proteger, e o tornado foi indo adiante. Quando olhei em volta, vi que ele derrubou um poste com um transformador e todos os fios estavam pelo chão, justamente onde eu havia passado.
O vento era forte e eu andei novamente o mais rápido que pude e fui me abrigar dentro do meu carro, parado no estacionamento, em frente ao local. Dali a pouco o carro começou a chacoalhar com o vento, e ouço um barulho enorme e esquisito do lado direito do carro. Era uma telha de zinco inteira, raspando com força toda lateral do carro, lixando a pintura e arrancando o retrovisor. Detalhe, o carro estava com apenas 1.000 km rodados. Novinho, adaptado para mim.
Aguardei um pouco, e passado o vento forte, saí do carro e fui ver o que tinha acontecido, porque estava bem cheio, por ser hora do almoço. Fiquei sabendo que amigas estavam me procurando, porque deram pela minha falta onde tinham se abrigado, em salas de aula da faculdade.
Encontrando com meu marido não tive nenhum acolhimento por parte dele. Lembro que me doeu muito, fui para o carro e sai dali, dirigindo pela rodovia, atordoada e dolorida, e fui para minha casa. Chegando em casa, sozinha, apavorada, só consegui deitar na minha cama, em posição fetal. Ali permaneci por horas, em choque.
A sequência de perigos e a agonia que passei me traumatizaram profundamente. Passei muitos anos da minha vida com um aperto forte no coração quando via o céu carregado ameaçando uma chuva forte. Até hoje ainda me aperta e me faz desistir de sair de casa.
Fui muito protegida, e mais uma vez, salva. E como!!! E desta vez, senti também um vazio, uma sensação de estar “sozinha”, mesmo acompanhada. Já estava começando ali uma separação, que iria se justificar e se manifestar mais adiante. Aprendi a dar valor para o que realmente é importante para minha vida.
6º Salvamento – Água e óleo na descida serra
Eu, morando em Curitiba - PR, estava indo para a casa da minha mãe, que morava em São José - SC. Nunca havia dirigido na BR 376, que é perigosa. Não estava acostumada a dirigir em estradas e muito menos sozinha no carro. Depois das cirurgias de coluna, eu tinha muitas limitações e dores horríveis, que tornavam minha viagem bem difícil. Só fiz esta loucura, porque minha mãe ligou desesperada, pedindo ajuda por conta de uns problemas com meu irmão. Arrumei a mala e fui embora. Na realidade, não pensei no que estava fazendo.
Fui dirigindo muito tensa, as mãos, braços, ombros não relaxavam. A coluna sentia muito mais a tensão nervosa que descia pelas pernas. Mas fui focada e determinada, eu tinha que ir e chegar lá.
Já na serra, onde estava com uma forte garoa e pista molhada, fui diminuindo a velocidade porque tinha algo acontecendo logo à frente, e logo passei por um caminhão caído, e vários carros batidos, uns no guard rail à esquerda e, outros na lateral da pista à direita. Estava a uns 10 km/h, tentando entender o que aconteceu ali. Mas não parei. Acredito que o acidente tinha acabado de acontecer.
Fui adiante. Quando passei no último posto da concessionária, a moça me disse que eu era o último carro esperado. Nenhum veículo mais estava descendo, por causa do acidente do caminhão, que derrubou óleo em toda pista.
Daí me dei conta de que eu passei por cima de todo óleo, bem devagar. Não perdi a direção, acho que também por estar com os quatro pneus novinhos. Imagine a pista molhada, com óleo e eu ali passando.... por isso os carros haviam batido dos dois lados da pista. Nem tinha me dado conta disso. Estava muito desligada e só querendo chegar ao meu destino.
Aí deu aquele nervoso e tive complicações na coluna, por causa da tensão, e precisei parar no posto de gasolina para me recuperar. Não tinha o que fazer, estava sozinha, e continuei a viagem. Quando cheguei em São José, desmoronei.
Com esta experiência senti que, mais uma vez, fui protegida. Eu podia ter me acidentado, batido o carro, demorado muito na serra (o que seria péssimo, porque tenho bexiga neurogênica). Deus sempre me guardando e fazendo com que eu me salve.
Minha conclusão
Eu acredito mesmo que tive e tenho muita proteção divina no decorrer da minha vida. Entendi que não temos o controle de nada, nem da nossa vida. A vida é frágil, passageira, um sopro se comparada a uma existência. E hoje, com mais maturidade e consciência, vejo o quanto é importante vivermos intensamente o agora. Aprendermos a ter o foco no agora, nos traz a intensidade da vida neste momento, nos faz sentir a abrangência do aprendizado neste instante.
Estou tendo muitas oportunidades e vejo esses eventos, contundentes para mim, como um “empurrão”, um lembrete de que sou um ser criado por Deus, mantido e guiado por Ele, e estou aqui temporariamente para cumprir com meu propósito.
Todas essas passagens trouxeram aprendizados como a existência de Deus dentro de mim, a força e coragem de superação, a vontade de viver acima de tudo. Me conduziram ao estudo da espiritualidade, cada vez mais ao trabalho voluntário, à empatia, à humildade, ao discernimento, à ética e respeito, e hoje servindo de exemplo para muitas pessoas pela persistência, superação, luta, não me deixando abater pelas dificuldades e pela dor constante.
Gratidão Deus!!!


Ual quantos livramento♡
Impressionante e muito interessante
Na realidade vc veio com um grande propósito , por isso permaneceu firme e forte diante das tribulações