Por que o “mistério” mexe tanto com o ser humano? Será porque o maior de todos os mistérios faz parte de si mesmo? O que faz o ser humano no Universo? Qual é a sua natureza? Qual é a sua origem? E o seu destino? Como explicar o que é a vida? E a morte?
Havemos de considerar que tudo na vida do ser humano pode ser considerado um grande mistério, pois como podemos entender ou explicar a miraculosidade e complexidade, por exemplo, de cada mínima parte do corpo humano, ou do seu cérebro até hoje indecifrável? Como explicar a consciência, o pensamento, a intuição, a imaginação, a inteligência? Como explicar os sentimentos? E a alma?
Temos muito mais “mistérios” do que “certezas”, se é que temos certeza de alguma coisa, pois não sabemos nem o que irá acontecer no minuto seguinte. Na realidade, a única certeza é a de que tudo muda a todo instante e o instante anterior já é passado; o instante seguinte também é um mistério.
Se não temos domínio de nada, nem certezas que nos garantam qualquer coisa, como podemos então desconsiderar que existam incontáveis “mistérios” que permeiam todo o Universo?
Por que sermos arrogantes em acreditar que temos algum domínio sobre qualquer coisa que seja?
Como podemos conceber o infinito se somos tão finitos e restritos?
Por que negarmos a existência de coisas que não vemos, já que desconhecemos até aquilo que está mais próximo de nós?
Por que negarmos a existência de fatos que a ciência, a física quântica e a nanotecnologia já comprovam?
Por que negarmos experiências extra-sensoriais ou espirituais?
Isso mostra que as pessoas acreditam no que querem. Hoje creem, amanhã podem não crer mais, ou seja, podem mudar suas crenças, porque as crenças estão sujeitas a mudar conforme o ser humano constata os fatos e evolui a sua consciência.
A FÉ é uma só - ou se tem ou não se tem, ela não muda. É a FÉ que nos conduz para tudo o que é realmente importante na nossa vida, tanto material quanto espiritual. Muitas teses já foram desenvolvidas sobre grandes mistérios que permeiam os seres humanos, entretanto, é a nossa FÉ que nos dá a certeza e nos faz sentir como realmente “filhos de Deus”, além de alimentar nossa essência divina com o fato de que estaremos um dia nos reintegrando Nele.
Desde sempre o ser humano consagrou-se a Deus, mesmo sendo Este incognoscível, inefável e indefinível. Alguém já viu Deus? Como podemos então defini-lo? Sem a FÉ é impossível conceber Deus. Se conseguíssemos definir Deus, Ele não mais seria o que É, porque é o “mistério” indecifrável da Sua existência que Lhe dá esse poder transcendental. O inefável a gente não conhece, mas “sabe” que existe.
A palavra “mistério” vem do grego, mystérion, e tem relação com o verbo mýein, que significa fechar, calar (Wikipédia .org). Normalmente o “mistério” está relacionado a algo religioso ou algo voltado à espiritualidade, mas pode ser tudo aquilo que a razão não pode explicar ou compreender; ou tudo aquilo que tem causa oculta ou parece inexplicável; um enigma.
“Mistério” é algo considerado secreto, indecifrável, oculto. Esse termo foi originado na remota antiguidade, pois desde sempre o ser humano busca por respostas que o levem a compreender o “desconhecido”. A palavra “mística(o)” e “misticismo” vêm dessa raiz e por isso tem o sentido de algo secreto, escondido, obscuro, indecifrável.
A espiritualidade é um tema ainda hoje cheio de “mistérios”, de perguntas desafiadoras, de pesquisas, de dúvidas, de medos. Entretanto, é a FÉ que tem o poder de transformar e acalmar o coração daqueles que intuitivamente sabem que existe algo muito maior e acima da nossa capacidade de definição e compreensão, que rege toda a Criação Universal.
A grande maioria dos seres humanos passa a aceitar a espiritualidade após ter tido alguma experiência que lhe tocou profundamente, como por exemplo, quando da morte de um ente muito amado, que fez com que a dor intensa mostrasse a possibilidade da vida após a morte. Ou, por exemplo, no caso de uma doença muito grave e sem controle da medicina, que faz com que o ser humano desperte para a espiritualidade. Muitas vezes, só assim o ser humano desperta para o amor incondicional ao próximo, passando a fazer algo que transforma o mundo em um lugar melhor para se viver.
Tudo aquilo que o ser humano não consegue apreender pelos seus cinco sentidos ou pela sua razão, ou seja, aquilo que ele não entende ou desconhece, acaba por ser alvo de mistificação. É comum encontrarmos pessoas mistificando tudo o que consideram um mistério, assim como tudo o que é considerado místico, distorcendo o seu verdadeiro significado.
“Mistificar” é a ação de fazer alguém crer em uma mentira ou em algo falso, abusando de sua credulidade; enganar; ludibriar; iludir. É isso que fazemos quando falamos de algo sobre o qual somos leigos (só ouvimos falar e passamos adiante), inclusive quando falamos de algo que, por não acreditarmos, distorcemos de forma tendenciosa.
Materialistas e céticos mistificam tudo o que foge à sua compreensão por acreditar que a sua verdade é única e a mais coerente. Outros tantos mistificam tudo aquilo que porventura pode colocar em xeque as suas crenças ou o seu poder. O ser humano não gosta de repensar seus conceitos. Em princípio, é resistente a todo tipo de mudança.
Em pleno século XXI, o misticismo ainda é visto com preconceito, oriundo da ignorância do ser humano, que ao invés de buscar conhecimento e ter suas próprias opiniões, ainda prefere aceitar conceitos prontos, até arcaicos, ou se deixar contaminar por preconceitos e superstições alheias. Quantas coisas na história da humanidade eram consideradas absurdas e depois, com o desenvolvimento e conhecimento aprofundado, foi constatado e aceito naturalmente. Hoje nem se questiona mais.
O misticismo reúne a filosofia, a ciência e a religião na sua essência, para dar as respostas que o ser humano se faz a respeito de Deus e de si próprio, buscando seu autoconhecimento. “Por definição natural, misticismo é a prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à Natureza e a Deus. Desta forma, a mística se distingue da religião por referir-se à experiência direta e pessoal, com a divindade, com o transcendente, sem a necessidade de intermediários, dogmas ou de uma teologia.” (Wikipédia .org)
Acho perfeita a descrição que Jakob Boehme fez no seu livro “O Príncipe dos Filósofos Divinos”, definindo o misticismo como um “tipo de religião que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus, ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. O iniciado que alcançou o “segredo” é chamado um “místico”. (Wikipédia .org)
Devemos inclusive conhecer e saber distinguir entre o “misticismo autêntico” e o “misticismo popular”.
O misticismo autêntico é a busca pela espiritualidade, estabelecendo uma relação direta e íntima com Deus, ou seja, é a consciência da Presença Divina dentro de nós mesmos. É a religião na sua essência, sem a necessidade de dogmas ou teologia que defina um sistema de pensamentos, normalmente tendencioso, pois isso é coisa criada pelo ser humano e é, portanto, tão finito quanto ele.
Essa experiência só pode ser vivenciada por aquele que tiver um desejo verdadeiro pela compreensão da vida e da existência, o que só ocorre com a evolução da sua consciência. O místico é quem tem esse desejo verdadeiro e não se cansa da sua busca, trilhando um caminho único, particular e intransferível.
O misticismo autêntico considera que tudo é energia, considerando desde a energia mais densa que é a matéria como a conhecemos, como aquilo que é imaterial, fluídico, sutil, que não vemos, mas existe. O místico com esta consciência admite a transição entre essas diferentes dimensões, também chamadas de níveis de consciência, assim como reconhece a Divindade Onipresente, Onipotente e Onisciente em toda a Criação. O místico consegue perceber a presença de Deus em tudo, porque tudo faz parte do Todo e o Todo contém tudo.
O misticismo popular, entretanto, é o misticismo “inventado”, no qual as pessoas, alheias a tudo aquilo que foge à sua compreensão, “mistificam” coisas, através da sua imaginação ou delírios, criando superstições e crendices, histórias de cada cultura passadas empiricamente, às vezes até para enganar ou abusar da credulidade das pessoas; essas mistificações normalmente não perduram e caem em descrédito. Neste caso, as pessoas não estão interessadas em se aprofundar na ciência ou expandir seus conhecimentos, mas somente em criações ilusórias, que tem como foco central a criação de lendas e histórias para amedrontar ou se divertir. Para elas, tudo aquilo que foge à sua compreensão, ou que desconhecem, acreditam ser “sobrenatural”.
O “sobrenatural” é algo totalmente relativo, pois depende da perspectiva do observador. No caso deste não ter consciência ou conhecimento do assunto, ele simplesmente o considera algo inexistente, oriundo de devaneios ou delírios místicos. Entretanto, se tiver conhecimento e experiência sobre o assunto será algo completamente “natural”. Do plano divino, nada é sobrenatural, tudo é absolutamente natural, faz parte da natureza intrínseca do ser.
O misticismo autêntico é para os “buscadores” e os “inconformistas”, ou seja, aqueles que questionam tudo e vão à busca de conhecimento, de informação, com o intuito de aprender mais e evoluir como seres humanos. Requer mente e coração trabalhando juntos.
O ser humano se mantém muitas vezes na ignorância por causa da sua intolerância e da sua tendência a só crer no que deseja crer. Portanto, o preconceito vem daquilo que o homem desconhece. Uma característica muito importante do místico é a mente aberta e sem preconceitos. Tudo serve para que os conceitos sejam repensados, considerando-se que um preconceito nada mais é do que um “pré-conceito”, ou seja, um conceito ultrapassado. Tudo muda a todo instante. Com certeza essa busca deve promover transformações no seu buscador, caso contrário, não justificaria a sua caminhada.
O verdadeiro místico busca conhecimento porque quer evoluir e sabe intuitivamente que tem muita coisa além daquilo que ele consegue imaginar, entender, pesquisar. Ele tem consciência de que não há como desvendar a Criação Divina que é infinita, indecifrável, incognoscível. Por mais que o ser humano, o ser mais evoluído de que temos notícia, queira decodificar cada item da Criação, ele nunca o conseguirá, tamanha a sua complexidade, miraculosidade, grandiosidade e superioridade.
Não existem mistérios ou coisas sobrenaturais, nós é que não conhecemos aquilo que denominamos de “mistério”, nós é que colocamos limite no que é ilimitado.
Na realidade, o que chamamos de mistério ou sobrenatural faz parte da Natureza, ou seja, é normal, nós é que desconhecemos a Criação Universal. Somos muito limitados em todos os sentidos e desconhecemos as forças do Universo, os dons e potências espirituais que vão muito além dos nossos cinco sentidos. Só nos resta sermos humildes para vivenciar cada minuto da dádiva divina que é a vida, aprendendo e evoluindo em conhecimento e virtudes, para compartilhar com o Universo todo Amor com que fomos criados.

