Custei muito para entender e aceitar que não tenho o controle de nada.
Já comecei minha vida com um pai controlador, exigente, perfeccionista, e exigia de mim que fizesse tudo do jeito que ele queria ou achava melhor. É um comportamento que já trouxe da sua família, descendentes de alemães, exigentes, rígidos, autoritários.
Eu era bem pequena ainda, me contaram, meu pai dizia “não” para algo, e dizia três vezes, depois disso, deixava fazer. E assim eu me cortei, me queimei, me machuquei, porque criança não tem noção do perigo. Mas já era teimosa!
O que aconteceu na sequência da minha vida é que eu vivia correndo atrás do controle de tudo. Também era perfeccionista, exigente, detalhista. O exemplo tinha sido muito forte. Passei a maior parte da minha vida agindo desta forma, sem me dar conta disso. O controle passou a ser algo “natural” para mim, porque achava que era assim que devia ser para viver.
Tentava controlar o tempo para tudo, cumprir os compromissos, otimizar o fluxo das atividades diárias e do trabalho, tudo pensado, planejado nos mínimos detalhes. E a vida tentando me mostrar que não temos o controle de nada, mas a minha resistência era maior e não enxergava isso, não conseguia sequer imaginar onde, em quais situações eu estava querendo manter o controle. Parecia tudo normal e corriqueiro.
Tinha dificuldades de me adaptar a mudanças, não aceitava imprevistos, não reparava que no meio do caminho planejado eu poderia fazer outra coisa também, mas como não estava planejado, passava “batido”.
Hoje vejo que isso é como viver numa prisão que eu mesma criei, onde eu não tinha flexibilidade, liberdade, criatividade. Me mantinha tensa e exigia o máximo, até mesmo de outras pessoas. Infelizmente, esse ciclo se repetia, e eu criei meu filho tentando controlar tudo, porque achava que essa era a melhor alternativa para soltá-lo neste mundo. Mas nunca lhe faltou amor, dedicação, entrega de mãe. Quem sabe possa ter compensado, assim espero.
Difícil aceitar que era controladora. Não me enxergava assim, era apenas uma vontade de ver tudo sendo feito de forma correta (como eu achava).
E mesmo com as restrições do controle, criei um filho que é excelente pessoa, ser humano maravilhoso, muito ético, responsável, trabalhador, sonhador, sabe o que quer e vai em busca disso, e acredito que é feliz. Lembro que não poupei esforços para orientá-lo e direcioná-lo no caminho que eu considerava correto, o que não foi tão difícil, porque ele tinha muito discernimento e era bem amadurecido e consciente. Também sou grata a todos os berçários e escolas que ele frequentou, desde os cinco meses até adulto, nas faculdades, os quais ajudaram a traçar seu caminho, como ser humano e profissional.
A vida foi passando, e mesmo com todos os seus percalços e dificuldades, eu não conseguia perceber o quanto eu era controladora. Cheguei num ponto da minha vida que o choque foi grande, porque eu estava sendo colocada de frente a esse meu defeito. Com ajuda de terapias, fui trazendo isso para a minha consciência e percebendo o quanto eu estava sofrendo por ser assim. O esforço que se tem para querer controlar as coisas é muito grande. É como querer controlar com as mãos o fluxo da água num riacho. Impossível!
Mesmo tendo consciência que eu precisava mudar, é muito difícil mudar. Primeiro eu tomei consciência de que sou controladora, e então, tive que ficar muito atenta aos meus pensamentos, sentimentos e ações, porque essa é uma característica tão impregnada na minha mente, que parece fazer parte de mim. É preciso muita vigilância para perceber o que ou quem estou querendo controlar.
E a vida vai ensinando sempre. Aparecem situações nas quais você é confrontado com o monstro do controle, que vem por todos os lados. Sempre tem alguém que a vida vai trazer para mostrar isso e dói demais. Num primeiro momento, você reage negativamente, não aceita, mas ao pensar melhor, você vê que mais uma vez, está querendo ter o controle.
A vida vai mostrando a todo momento, o quanto você não tem o controle de nada. Planos diários são mudados de uma hora para a outra. O planejamento tem que ser refeito, coisas novas encaixadas, outras canceladas ou adiadas. Quem você pensa controlar, alça voos. Você fica doente e vê que a vida neste plano é efêmera e finita; é envolvido em problemas familiares, financeiros; e aí o sofrimento fica muito maior, principalmente se não souber lidar com o “descontrole”.
A vida vai te conduzindo porque existe um fluxo natural, que antes, você não reparava. Achava que podia fazer como quisesse, você queria definir esse fluxo e administrá-lo.
Não é nada fácil perceber o quanto somos controladores. Não é fácil notar os pontos de controle. Não é nada fácil deixar de ser controlador. Antes de mais nada, tem que ter consciência disso, somente assim podemos fazer alguma coisa. Para auxiliar nesse processo, é muito importante a ajuda de terapias, porque sozinhos não conseguimos despertar para os inúmeros pontos de controle que temos e nem suspeitamos.
Uma vez, comprei uma plantinha maravilhosa, uma mini pacová. Ela estava com uma nova folha se desenvolvendo e eu acompanhando seu crescimento dia a dia. Ela abriu e estava mole, meio torta, e eu a arruma e tentava fazê-la ficar mais firme. Quando me dei conta de que eu estava tentando controlar até minha planta. Levei um choque com isso. Valeu muito, porque me dei conta de que preciso mudar urgente. E a folha ficou linda, forte, enorme, maravilhosa e... sozinha, como é da sua natureza!
Precisamos entender que a vida pode ser muito mais leve quando soltamos o controle. Você sempre está pronto para o que vier, porque virá mesmo.

