O que seria do mundo no qual vivemos se não fossem as diferenças?
Nossa percepção se dá por meio da relação que estabelecemos entre as coisas, ou seja, conseguimos distingui-las percebendo as diferenças que existem entre elas, pois o ser humano só apreende diferenças. Estas são compreendidas por meio de comparações, que vão sendo armazenadas na nossa mente. Se não houvesse diferenças, tudo seria idêntico, estático e sem evolução.
Nossa mente retém todas as informações possibilitando-nos viver e sobreviver neste mundo. Por exemplo, os diferentes sabores, os diferentes cheiros, os diferentes objetos, dentre tantas outras coisas, mas especialmente as diferentes pessoas com as quais nos relacionamos na sociedade, cada uma com a sua personalidade, seu caráter, sua moral, também seu nível de consciência e evolução espiritual.
As diferenças foram criadas como instrumento para a evolução do ser humano em todas as áreas da sua vida. Na relação em sociedade, as diferenças permitem que o ser humano veja o reflexo das suas imperfeições no outro. Este é um artifício criado para que ele possa reconhecê-las, entendê-las, sentir o seu efeito, e assim provocar a sua reflexão e autotransformação interior. Quando somos muito parecidos ou iguais no modo de ser e pensar é muito mais fácil o relacionamento, mas não evoluímos tanto quanto se houvesse as diferenças para nos mostrar nosso egoísmo, vaidade, egocentrismo, arrogância.
É justamente devido às diferenças que o ser humano criou o preconceito e, infelizmente, todo ser humano tem preconceito de alguma coisa. O preconceito fundamenta-se nas comparações que fazemos e consolida-se na dificuldade de aceitarmos as diferenças, assim como mudanças de conceitos e de atitudes. Percebemos que qualquer tipo de diferença é motivo para desenvolvermos nossos preconceitos.
A palavra preconceito é a junção de “pré + conceito”, o que já diz todo o seu significado – um ‘conceito anterior’ a ‘outro mais novo’. No dicionário (Houaiss) consta que preconceito é “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico; ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, ponderação ou razão”. Assim, o preconceito existe justamente em função da falta de conhecimento ou consciência das pessoas.
Desde a Criação, no momento em que o ser humano teve consciência da sua consciência, ele percebeu as diferenças e já foi delineando seus conceitos e assim, aos poucos, marcando a história da humanidade com grandes injustiças. Por toda a história também encontramos inúmeros casos de preconceitos, os quais ficaram arraigados em certas culturas, povos, e que se estenderam para muitas gerações seguintes. Atualmente, por mais que haja a tentativa de conscientização das pessoas com relação aos preconceitos, eles ainda são muito fortes e as pessoas não veem isso como um problema e não param para refletir sobre o assunto.
Desde que nascemos, vamos aprendendo as coisas do mundo com aqueles com os quais convivemos. Assim, num dado momento alguém nos passa um conceito sobre algo e fixamos esse conceito como único e verdadeiro, sem questionar sobre o assunto, mesmo muito tempo depois. Com a evolução, poderíamos rever nossos conceitos, porque tudo na vida muda a todo instante, inclusive os conceitos, mas isso dificilmente acontece.
Só para nossa lembrança, vejamos alguns preconceitos que parecem estar longe de nós, mas que estão muito mais perto do que imaginamos… Preconceitos com a aparência (feia ou bonita), forma de falar, de se vestir. Preconceito com pessoas de cor de pele diferente da sua. Preconceito com o status social ou posição profissional. Preconceito com pessoas de sotaques diferentes ou que falem/escrevam “errado”. Preconceito com idade, muito novo ou muito velho para alguma função ou relacionamento. Preconceito com pessoas idosas, gordas, muito magras ou altas, com algum defeito físico, pedintes, mendigos, prostitutas, bêbados, usuários de drogas. Preconceito com pessoas portadoras de doenças graves (câncer, AIDS, lepra, por exemplo). Preconceito com pessoas de pouco conhecimento ou estudo ou o contrário, com pessoas intelectuais ou com “dons especiais”. Preconceito com religiões, músicas, esportes, culturas, comidas. Preconceito com países, por diversos motivos. Preconceito com opção sexual ou com o sexo (masculino ou feminino) para determinadas funções profissionais ou como ser superior um ao outro. Não tem fim! Chega-se ao ponto do preconceito com as mínimas coisas, como por exemplo, marca ou tipo de carro, griffes diversas, até mesmo pasta de dente. Será que alguém pode “jogar a primeira pedra” (quem não tenha nenhum tipo de preconceito)?
Quem criou o preconceito foi o ser humano. Quem disse que isso é feio, aquilo é bonito? Que é superior ou inferior? Foi o ser humano que estereotipou os conceitos que existem por aí. E por mais que se tente conscientizar as pessoas sobre a falta de fundamento dos preconceitos, ainda assim elas, na sua arrogância, se acham no direito de discriminar, sem se questionar se isso é o que se espera de pessoas que se dizem religiosas, com fé em Deus, seguidoras de Jesus e das Leis Divinas.
Deveríamos ter amor e respeito por todos os seres da Criação, sem nenhum tipo de distinção. Se aceitarmos o fato de que tudo muda a todo instante, também entenderemos que o fluir da vida é uma constante, que independe da nossa vontade. Mesmo que queiramos resistir às mudanças, elas se farão incisivas nas nossas vidas e nos farão mudar pelo amor ou pela dor.
Somos seres em evolução neste planeta. Tudo nos foi dado gratuitamente por Deus para que pudéssemos vivenciar nossas experiências e provas com o intuito de melhorarmos como seres humanos a cada dia. Considerando-se a mutabilidade das coisas e situações, precisamos ter consciência de que hoje podemos TER muitas coisas, mas tudo isso pode um dia se transformar de uma hora para a outra. Uma tragédia, uma doença, um erro cometido, podem nos colocar na situação inversa e passarmos a ser exatamente aquilo que antes era o nosso preconceito. Quando acontece algo conosco ou com alguém próximo a nós, a coisa fica diferente, ou seja, passamos a encarar de forma diferente porque sofremos com o preconceito. O simples fluir das nossas vidas já basta para nos ensinar o que precisamos – não sabemos nada sobre o futuro. Todos um dia ficarão velhos; a maioria um dia terá doenças ou pode sofrer acidentes; dentre tantos outros casos.
Mesmo quem não conhece profundamente a Bíblia, já ouviu as histórias da trajetória de Jesus, que não discriminava ninguém, aceitava igualmente a todos, em quaisquer que fossem as circunstâncias ou delitos que eles tenham cometido. Se Jesus veio para ser um exemplo para a humanidade, então cada um deveria repensar seus ‘pré-conceitos’ e promover sua autotransformação. Não fazer ao outro aquilo que você não quer que te façam.
Para acabar com os preconceitos, precisamos mudar nossos conceitos e atitudes com relação a eles e assim as diferenças serão aceitas e compreendidas como instrumentos para nossa evolução. Isso não é uma tarefa fácil para nosso ego e, por isso, muitas pessoas preferem negar e fazer de conta que não estão sujeitas aos diversos preconceitos que encontramos no nosso mundo, por pura resistência e prepotência. Quando as pessoas realmente se sentirem identificadas com o Pai Maior e quando realmente aceitarem a responsabilidade por seus pensamentos, vontades e ações, aí sim elas evoluirão sua consciência e eliminarão o preconceito das suas vidas, que é o que Deus espera de Seus filhos.
O ensinamento de Jesus que nos instrui a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é o caminho que pode nos redimir com Deus e transformar a humanidade em uma grande fraternidade. Mas para isso, o ser humano precisa despertar sua consciência e aceitar com humildade que todos os seres precisam uns dos outros, considerando-se todas as diferenças. Se não aceito meu “irmão”, um elo dessa imensa rede da Criação Divina fica rompido. Para amar ao próximo como a si mesmo, o ser humano ainda precisa superar os preconceitos que envenenam sua mente e seu coração. As diferenças existem com a finalidade de aprendermos a conviver com elas e assim, evoluir. Faz parte do plano de Deus para a Criação Universal.